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CARLOS HEITOR CONY
Gargantas profundas
RIO DE JANEIRO - Em doze anos seguidos aqui neste espaço, nunca deixei de lembrar, a cada 3 de fevereiro,
o Dia de São Brás, epíscopo e mártir,
como informa o calendário religioso.
Existem numerosos epíscopos e mártires dos quais não lembro nem a data nem os feitos.
São Brás é diferente, porque nos
protege a garganta e nos livra de outros males. A rouquidão permanente,
como a do nosso presidente, seria um
desses males. Recomendo-lhe uma
prece ao santo do dia, sem desmerecer outros cuidados médicos, como
gargarejos, pastilhas de hortelã e economia vocal para ajudar são Brás a
ajudá-lo.
Já lembrei, em anos passados, que
antigamente havia muitas sufocações, ia-se a um restaurante, de repente, um sujeito levantava-se da
mesa, apoplético, mão na garganta,
sem ar, engasgado com um osso de
galinha, uma espinha de peixe, às vezes com um simples gole de água
Nem era preciso chamar a ambulância. Alguém acudia o sufocado,
invocando são Brás, mas com um adjutório indispensável: concomitantemente aos apelos em altos brados ao
santo, dava seguidas porradas nas
costas do infeliz, não sei por que, sempre de baixo para cima e nunca de cima para baixo. Até o advento da penicilina, nunca houve remédio tão
eficaz.
Lembrei igualmente, em crônicas
antigas, um espanhol cujo nome
nunca se soube, mas que atendia pelo
apelido de Arranca. Diziam que havia matado um padre em Segóvia,
durante a Guerra Civil. Sua porrada
era fulminante, nem precisava dar
duas, uma só era bastante.
O brado que dava, clamando por
são Brás, era também medonho. Salvou a muitos, menos a um tal de seu
Werner, um suíço que se entupiu com
um caroço de ameixa. Não morreu
sufocado, mas de graves complicações nas costelas avariadas.
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