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TENDÊNCIAS/DEBATES
A "nova Câmara" será melhor que a anterior?
SIM
A retomada da produtividade legislativa
ROGÉRIO SCHMITT
O DIAGNÓSTICO de que a última
legislatura da Câmara dos Deputados teria sido uma das
piores de toda a história do Congresso
Nacional não é inteiramente despropositado. Ele está amparado em boas
evidências empíricas.
Uma delas é o fato de que quase
uma centena de parlamentares foi
objeto de denúncias de corrupção nos
escândalos do mensalão e dos sanguessugas. Desse total, três deputados foram cassados em plenário e seis
renunciaram para evitar a inevitável
cassação. Além disso, os índices de
popularidade do Poder Legislativo
-que, é verdade, nunca foram lá muito elevados- atingiram patamares
muito reduzidos em 2005 e 2006.
Nesse sentido, é quase trivial a afirmação de que a legislatura recém-empossada terá de se esforçar muito para repetir o desempenho da anterior
no que diz respeito ao evidente desgaste ante a opinião pública. Quando
se chega ao fundo do poço, não há
mais para onde ir, a não ser para cima.
Porém, também há boas evidências
empíricas de que o retrospecto da última Câmara não foi tão ruim quanto
se supõe à primeira vista. Pelo menos
quando se adota como critério o veredicto do eleitorado. Nas eleições de
2006, não ocorreu nenhum aumento
expressivo nas taxas de votos brancos
e nulos. Do mesmo modo, os índices
de reeleição parlamentar permaneceram muito próximos de sua média
histórica. Os grandes partidos continuaram sendo grandes, e os pequenos
continuaram sendo pequenos.
Vale lembrar, a propósito, que os
deputados e senadores aprovaram na
última legislatura uma série de reformas modernizadoras da legislação.
Foi o caso, por exemplo, da reforma
do Judiciário, da previdência do setor
público, da lei de falências e da abertura do mercado de resseguros.
Mas o fato é que quase todas as inovações institucionais que entraram
em vigor no último quadriênio foram
votadas pelo Congresso nos dois primeiros anos da antiga legislatura, antes do início da crise política.
Entre a
eclosão do escândalo do mensalão
(maio de 2005) e as eleições (outubro
de 2006), quase nenhuma matéria relevante foi aprovada na Câmara.
No curto prazo, portanto, há excelentes razões para acreditar que os
primeiros anos da nova legislatura
deverão ser bem melhores que os dois
últimos anos da legislatura anterior.
A agenda do Congresso dificilmente
continuará dominada por escândalos
e por CPIs. O foco das atenções certamente estará voltado para questões
substantivas, como deve ser o caso,
por exemplo, da tramitação dos projetos que integram o PAC (Programa
de Aceleração do Crescimento).
O início dos trabalhos da nova legislatura já sinalizou que os partidos políticos recuperaram poder de agenda
sobre os parlamentares individuais. A
escolha dos novos presidentes da Câmara e do Senado nitidamente obedeceu a critérios partidários e à clivagem governo versus oposição.
Na ponta do lápis, a base governista
neste início de legislatura é formada
por 11 partidos que agregam algo em
torno de 350 deputados (quase 70%
da Câmara) e de 50 senadores (cerca
de 60% do Senado). Não foi nenhuma
surpresa, portanto, que o peemedebista Renan Calheiros tenha sido reeleito com os votos de 51 senadores.
Na Câmara, a existência de dois
candidatos da base aliada fragmentou
os votos dos deputados governistas.
Mesmo assim, prevaleceu uma lógica
partidária. A votação somada do petista Arlindo Chinaglia e do comunista Aldo Rebelo no primeiro turno foi
de 411 deputados. Quando se exclui
desse total a bancada do oposicionista
PFL (que apoiava Aldo), restam 348
votos, o tamanho da base governista.
Mas o teste definitivo para avaliar o
desempenho da nova Câmara será a
capacidade de os deputados conseguirem dar continuidade à tramitação de uma série de projetos economicamente relevantes que há tempo
estão infrutiferamente tramitando
na Casa. A lista inclui proposições como o cadastro positivo no mercado de
crédito, a lei das agências reguladoras, a reestruturação do sistema de
defesa da concorrência e o novo marco regulatório do gás natural.
ROGÉRIO SCHMITT, 38, doutor em ciência política pelo
Iuperj, é analista político sênior da Tendências Consultoria Integrada.
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