São Paulo, sábado, 03 de março de 2007

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IGOR GIELOW

Oportunidade e riscos etílicos

BRASÍLIA - O presidente Lula deveria aproveitar a visita de George W. Bush e inaugurar uma estátua em homenagem ao americano. Seu Itamaraty, o PT e a academia esquerdista podem não gostar, mas a verdade é que, se este governo tem alguma chance de ser lembrado em termos mundiais no futuro, será pelas mãos do "toxic Texan".
Lula pode acabar em dívida com a política belicista dos EUA, que lhes tornou antagônico o mercado de gás e petróleo da Rússia à Venezuela, e com a devastação de Nova Orleans por um evento associado ao consumo de combustíveis fósseis (seja isso 100% correto ou não).
Com tantos problemas envolvendo os hidrocarbonetos, a maior economia do mundo resolveu investir em álcool. Olha com cobiça para o Brasil, detentor do maior espaço agriculturável nas proximidades e, de quebra, experiente no uso do álcool etílico como fonte de energia.
É tudo negócio: ainda que seja mais "limpa", o que interessa aos EUA é a o fato de essa matriz ser renovável e fornecida por parceiros mais confiáveis.
Assim, o Brasil poderá colocar-se na posição de um "global player" de verdade. Esqueça as balelas megalômanas e, ironia suprema, antiamericanas dos primeiros quatro anos de Lula: será o álcool abençoado por Bush o ingresso do Brasil no time dos que contam algo.
Mas essa é a visão otimista. A negociação precisa ser muito bem conduzida. Primeiro, porque os EUA já têm décadas de experiência com um cartel energético, a Opep dos xeques, dos aiatolás e de Hugo Chávez. Não vão querer uma Opep de tamoios lhes importunando.
Além disso, há o risco-limite de o Brasil virar uma grande "plantation" de cana, com efeitos de desindustrialização e perda de áreas produtivas para alimentos. É cenário apocalíptico, mas cautela é conveniente. Achar que os EUA se curvarão passivamente à "genialidade intuitiva" de Lula é bem pior.


igielow@folhasp.com.br

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