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IGOR GIELOW
Oportunidade e riscos etílicos
BRASÍLIA - O presidente Lula deveria aproveitar a visita de George
W. Bush e inaugurar uma estátua
em homenagem ao americano. Seu
Itamaraty, o PT e a academia esquerdista podem não gostar, mas a
verdade é que, se este governo tem
alguma chance de ser lembrado em
termos mundiais no futuro, será
pelas mãos do "toxic Texan".
Lula pode acabar em dívida com a
política belicista dos EUA, que lhes
tornou antagônico o mercado de
gás e petróleo da Rússia à Venezuela, e com a devastação de Nova Orleans por um evento associado ao
consumo de combustíveis fósseis
(seja isso 100% correto ou não).
Com tantos problemas envolvendo os hidrocarbonetos, a maior economia do mundo resolveu investir
em álcool. Olha com cobiça para o
Brasil, detentor do maior espaço
agriculturável nas proximidades e,
de quebra, experiente no uso do álcool etílico como fonte de energia.
É tudo negócio: ainda que seja mais
"limpa", o que interessa aos EUA é a
o fato de essa matriz ser renovável e
fornecida por parceiros mais confiáveis.
Assim, o Brasil poderá colocar-se
na posição de um "global player" de
verdade. Esqueça as balelas megalômanas e, ironia suprema, antiamericanas dos primeiros quatro
anos de Lula: será o álcool abençoado por Bush o ingresso do Brasil no
time dos que contam algo.
Mas essa é a visão otimista. A negociação precisa ser muito bem
conduzida. Primeiro, porque os
EUA já têm décadas de experiência
com um cartel energético, a Opep
dos xeques, dos aiatolás e de Hugo
Chávez. Não vão querer uma Opep
de tamoios lhes importunando.
Além disso, há o risco-limite de o
Brasil virar uma grande "plantation" de cana, com efeitos de desindustrialização e perda de áreas produtivas para alimentos. É cenário
apocalíptico, mas cautela é conveniente. Achar que os EUA se curvarão passivamente à "genialidade intuitiva" de Lula é bem pior.
igielow@folhasp.com.br
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