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RUY CASTRO
Campeão -ou vice
RIO DE JANEIRO - Diz o "New
York Times" que o Brasil é o segundo maior consumidor de cocaína no
mundo. Ou seja, somos vice na especialidade, só perdendo para os
EUA. Não é uma colocação lisonjeira. Sabendo que essa montanha de
cocaína vem de fora e passa catita e
fagueira pelas nossas fronteiras, fico me lembrando das vezes em que
a Alfândega me abriu as malas no
Galeão. Enquanto eles fiscalizavam
meus CDs de Billy Eckstine e June
Christy, alguém estava chegando,
vergado de pó, na praça Mauá ou
em Foz do Iguaçu.
Dizem também que o Brasil é o
campeão mundial em cirurgia plástica. Campeão ou vice. Tudo bem, o
maior nome na especialidade é nosso e, por acaso, o dr. Pitanguy é o
grande patrono da cirurgia restauradora. Mas, no Brasil, temo que a
maioria dos cirurgiões se dedique a
rechear seios com silicone ou bochechas com Botox. Daí a quantidade de mulheres na praça que lembram um cruzamento da boneca inflável Afrodite com o Topo Gigio.
O Brasil parece também estar se
tornando recordista mundial em cirurgias de redução do estômago.
Conheço pessoas que cortaram metros da serpentina e, efetivamente,
deixaram de ser obesas, porque
passaram a comer menos. Mas não
mudaram certos hábitos. Continuaram, por exemplo, a beber como
antes -mas passaram a ficar de
porre mais cedo e a sentir os efeitos
ainda piores dessa intoxicação.
E, entre outras práticas em que o
Brasil está lá no alto, disputando cabeça e focinho com países do Primeiro Mundo, contam-se os abortos (ilegais, naturalmente), as cesarianas e o consumo de moderadores de apetite. Por desinformação,
modismo ou temperamento, somos
assim -exagerados em tudo, até
nessas práticas que envolvem risco.
Ou não seria o Brasil também um
campeão mundial -ou vice- em
automedicação.
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