São Paulo, segunda-feira, 03 de março de 2008

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RUY CASTRO

Campeão -ou vice

RIO DE JANEIRO - Diz o "New York Times" que o Brasil é o segundo maior consumidor de cocaína no mundo. Ou seja, somos vice na especialidade, só perdendo para os EUA. Não é uma colocação lisonjeira. Sabendo que essa montanha de cocaína vem de fora e passa catita e fagueira pelas nossas fronteiras, fico me lembrando das vezes em que a Alfândega me abriu as malas no Galeão. Enquanto eles fiscalizavam meus CDs de Billy Eckstine e June Christy, alguém estava chegando, vergado de pó, na praça Mauá ou em Foz do Iguaçu.
Dizem também que o Brasil é o campeão mundial em cirurgia plástica. Campeão ou vice. Tudo bem, o maior nome na especialidade é nosso e, por acaso, o dr. Pitanguy é o grande patrono da cirurgia restauradora. Mas, no Brasil, temo que a maioria dos cirurgiões se dedique a rechear seios com silicone ou bochechas com Botox. Daí a quantidade de mulheres na praça que lembram um cruzamento da boneca inflável Afrodite com o Topo Gigio.
O Brasil parece também estar se tornando recordista mundial em cirurgias de redução do estômago. Conheço pessoas que cortaram metros da serpentina e, efetivamente, deixaram de ser obesas, porque passaram a comer menos. Mas não mudaram certos hábitos. Continuaram, por exemplo, a beber como antes -mas passaram a ficar de porre mais cedo e a sentir os efeitos ainda piores dessa intoxicação.
E, entre outras práticas em que o Brasil está lá no alto, disputando cabeça e focinho com países do Primeiro Mundo, contam-se os abortos (ilegais, naturalmente), as cesarianas e o consumo de moderadores de apetite. Por desinformação, modismo ou temperamento, somos assim -exagerados em tudo, até nessas práticas que envolvem risco.
Ou não seria o Brasil também um campeão mundial -ou vice- em automedicação.


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