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ELIANE CANTANHÊDE
Assim caminha a humanidade
BRASÍLIA - Ih! Depois da Paula
Oliveira, o Guinga. Cochicha daqui,
cochicha dali, nem o Itamaraty
nem a Embaixada da Espanha confirmam que o músico brasileiro levou um soco de policiais e perdeu
dois dentes no aeroporto de Barajas. Como não registrou queixa oficial, não há inquérito nem confirmação, só dúvidas. Até segunda ordem, fica o dito pelo não dito.
Enquanto isso, sucedem-se os
episódios de violência contra estrangeiros no verão brasileiro. Um
sueco morre depois de baleado na
praia de Pipa (RN). Jovens norte-americanos e europeus são assaltados às dúzias em dois albergues (albergues!) no Rio. Toda hora um ladrão ataca um, uma bala mata outro, com fotos de turistas antecipando a volta, tristes e abatidos.
Pensando friamente: se você fosse estrangeiro, viria passar férias,
ou o Carnaval, nas nossas grandes
cidades? Em São Paulo? Recife? Salvador? Ou no Rio, onde o músico
Marcelo Yuka acaba de ser agredido
num assalto quase no mesmo lugar
onde foi baleado por ladrões em
2000 e ficou paraplégico?
Eu morreria de medo, tanto
quanto moças e moços brasileiros
ficam com um pé atrás quando pensam em ir à Europa desembarcando
em Madri ou Londres, por exemplo.
Na capital da Espanha, os casos de
constrangimento melhoraram, mas
é impossível se esquecer das pessoas que pagaram caro pelas passagens e acabaram sem comida e sem
banho até serem devolvidas sem
ressarcimento. Em Londres, o caso
Jean Charles, sabidamente assassinado por policiais -que estão impunes-, dá um frio na espinha.
O mundo está cada vez mais perigoso. Os pobres não podem mais ir
para o países ricos porque o bicho
pega. E os ricos não podem fazer turismo nos países pobres e emergentes porque o bicho mata. Assim caminham a humanidade, a globalização e a crise. E sem chances de melhorar. Ao contrário, com a recessão e o desemprego em ricos e pobres, tudo só pode piorar.
elianec@uol.com.br
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