São Paulo, terça-feira, 03 de março de 2009

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CARLOS HEITOR CONY

Pecunia non olet

RIO DE JANEIRO - Publiquei há tempos, neste mesmo espaço, crônica com este título: "Dinheiro não tem cheiro". Explico a citação: para impedir sujeira nas ruas de Roma, Vespasiano mandou construir mictórios públicos que receberam o nome do imperador. Para compensar o investimento, taxou os vespasianos -até hoje existem alguns no centro histórico da cidade. Seu filho reclamou: achou que era demais cobrar impostos de uma necessidade pública. Vespasiano pronunciou então a frase que se tornou famosa: "Pecunia non olet".
No Carnaval que passou, com a simpática volta dos blocos de rua, alguns deles com quase um milhão de foliões (caso do Bola Preta, que desfilou na Rio Branco), surgiu um problema que pegou autoridades desprevenidas: as ruas, muros, árvores e postes foram transformados em banheiros ao ar livre. O combustível de um bloco Carnavalesco é a cerveja, agradável bebida que tem efeito diurético.
Nas grandes cervejarias de Munique havia, pelo menos até certo tempo, dispositivos nas mesas de chope que aliviavam a necessidade sem que o freguês procurasse o banheiro: desapertava-se sem sair do lugar. Não chegamos a esse ponto de civilização.
Na verdade, pelo menos aqui no Rio, é cada vez maior o número de pessoas que cumprem a função em qualquer lugar público. Os historiadores contam que dom João 6º, que nos trouxe a biblioteca nacional, as palmeiras do Jardim Botânico e outros benefícios urbanos, quando ia para Santa Cruz, mandava parar a carruagem e fazia suas necessidades. Consta que seu filho, ao dar o grito de independência e morte, deixou sua montaria e foi poluir as margens plácidas do Ipiranga.
Vespasiano e Pedro 1º foram imperadores. Em tempos republicanos, o problema ainda não foi resolvido.


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