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CARLOS HEITOR CONY
Pecunia non olet
RIO DE JANEIRO - Publiquei há
tempos, neste mesmo espaço, crônica com este título: "Dinheiro não
tem cheiro". Explico a citação: para
impedir sujeira nas ruas de Roma,
Vespasiano mandou construir mictórios públicos que receberam o
nome do imperador. Para compensar o investimento, taxou os vespasianos -até hoje existem alguns no
centro histórico da cidade. Seu filho
reclamou: achou que era demais cobrar impostos de uma necessidade
pública. Vespasiano pronunciou
então a frase que se tornou famosa:
"Pecunia non olet".
No Carnaval que passou, com a
simpática volta dos blocos de rua,
alguns deles com quase um milhão
de foliões (caso do Bola Preta, que
desfilou na Rio Branco), surgiu um
problema que pegou autoridades
desprevenidas: as ruas, muros, árvores e postes foram transformados em banheiros ao ar livre. O
combustível de um bloco Carnavalesco é a cerveja, agradável bebida
que tem efeito diurético.
Nas grandes cervejarias de Munique havia, pelo menos até certo
tempo, dispositivos nas mesas de
chope que aliviavam a necessidade
sem que o freguês procurasse o banheiro: desapertava-se sem sair do
lugar. Não chegamos a esse ponto
de civilização.
Na verdade, pelo menos aqui no
Rio, é cada vez maior o número de
pessoas que cumprem a função em
qualquer lugar público. Os historiadores contam que dom João 6º, que
nos trouxe a biblioteca nacional, as
palmeiras do Jardim Botânico e outros benefícios urbanos, quando ia
para Santa Cruz, mandava parar a
carruagem e fazia suas necessidades. Consta que seu filho, ao dar o
grito de independência e morte,
deixou sua montaria e foi poluir as
margens plácidas do Ipiranga.
Vespasiano e Pedro 1º foram imperadores. Em tempos republicanos, o problema ainda não foi
resolvido.
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