São Paulo, sábado, 03 de abril de 2004

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DEMOCRACIA NO IRAQUE

Ninguém em seu juízo perfeito acredita que George W. Bush invadiu o Iraque para levar a democracia ao país. O controle sobre as reservas estratégicas de petróleo, o interesse em dispor de bases territoriais para manter tropas na região, a oportunidade de forjar lucrativos contratos de reconstrução e até os sentimentos pessoais que o presidente norte-americano nutria em relação a Saddam Hussein se afiguram como razões mais plausíveis. Nenhum desses motivos, porém, impede que se acredite que Washington também desejasse usar o Iraque como laboratório para uma experiência democrática no Oriente Médio.
A decisão do procônsul de Bush para o Iraque, Paul Bremer, de mandar lacrar um periódico em Bagdá, contudo, mostra o quão errados estão aqueles que ainda achavam que a democracia poderia surgir como um subproduto da guerra de George W. Bush. Não que a publicação censurada valha um pranto. O semanário xiita "Al Hawza" vinha se especializando em publicar como notícias rumores infundados que incitavam a população contra os americanos.
O problema da atitude adotada por Bremer é que ela tende a ser contraproducente. Deixou milhares de iraquianos irritados com a administração norte-americana e está longe de resolver a animosidade contra as forças invasores -que explica situações dantescas como a recente chacina de um grupo de civis norte-americanos. Não são os falsos boatos que levam iraquianos a atacar as tropas de ocupação. Os rumores são, antes, um sintoma do descontentamento.
De resto, o fechamento de "Al Hawza" é apenas mais um episódio que reitera os limites à democracia que Washington concebe para o Iraque. Ao que tudo indica, a Casa Branca deixará que os iraquianos decidam seu próprio destino, desde que não elejam um governo fundamentalista islâmico e que não contrariem os interesses da administração Bush. Essa não parece uma boa definição para democracia.


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