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MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
A imaginação no poder
SÃO PAULO - A inscrição da política na lógica publicitária de mercado
não é nenhuma novidade. Candidatos, governos, programas sociais e
hambúrgueres se equivalem no mundo encantado da mercadoria. Não é
nada estranho, portanto, que peças
publicitárias do governo tenham ido
ao ar mostrando situações mais enganosas do que seria lícito esperar.
Como esta Folha noticiou, um
anúncio destinado a vender os resultados de investimentos governamentais em agricultura familiar mostrava uma verdejante área de plantio de
uma propriedade privada, que jamais recebeu um tostão furado do
programa agrícola em questão.
Esse tipo de artifício é corriqueiro
na publicidade. A atriz que aparece
linda na cozinha de casa recomendando isso ou aquilo está num estúdio encenando uma situação que nada ou muito pouco tem a ver com seu
cotidiano. Tudo fica melhor nos filmes. Locações estrategicamente escolhidas podem até fazer de São Paulo
uma sólida e bela capital européia.
Não vejo motivo para o governo se
preocupar tanto com isso a ponto de
ter retirado a campanha do ar. Tudo,
afinal, é um tanto enganoso no universo marqueteiro. Por que então
não explorar os recursos disponíveis?
Por exemplo: por que não usar o Fasano como locação de um anúncio do
Fome Zero? Talvez soasse um pouquinho artificial, é verdade. Mas, e
daí? Ficaria um luxo.
E que tal uma paisagem suíça, com
crianças uniformizadas, para enaltecer os feitos da educação petista? Um
pouco de neve ao fundo, nos picos alpinos, daria o necessário toque civilizatório. E não há razão para descartar os bancos de dados. Imagens de
arquivo podem ter imenso valor publicitário. Uma fábrica fordista, por
exemplo, como aquelas de "Tempos
Modernos", se bem colorizada no
computador, resultaria em apropriada e dinâmica ambientação para os
progressos do Primeiro Emprego.
Enfim, sejamos criativos, companheiros. Como pediam em 68: a imaginação no poder!
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