São Paulo, sábado, 03 de abril de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

Por que uma CPI faz bem

BRASÍLIA - Há algum indício, ainda que remoto, de que seja falsa a fita de vídeo com Waldomiro Diniz pedindo propina para si e doações irregulares para políticos? A resposta é não.
Dessa forma, por mais que o ânimo do subprocurador da República tenha sido político, não é possível afirmar que armou-se do nada uma conspiração para derrubar o governo. Henfil tinha um personagem chamado Ubaldo, o paranóico. É mais ou menos assim que agem os governistas que apontam a armação (sic) para desestabilizar a República.
É verdade que até hoje há quem não acredite que o homem chegou à Lua. Tudo teria sido gravado pela Nasa no deserto do Mojave. OK. O que é impróprio é um governo propagar esse tipo de disparate.
Há pessoas de bom senso contrárias a uma CPI para o caso Waldomiro. Os excessos de investigações recentes são sempre citados. Ainda assim, é um erro achar que uma CPI seja apenas uma saída ruim.
Para o bem ou para mal -muitas vezes para o mal, reconheço- as CPIs foram o único recurso para apurar decentemente casos escabrosos em Brasília. Isso ocorre porque a Justiça é inoperante, a PF continua uma caixa-preta e o Ministério Público se divide em facções políticas.
Há casos em que a purgação pública de uma CPI faz bem ao país. Collor é um exemplo clássico.
No caso Waldomiro, alguém duvida que só com uma CPI a nação conhecerá minimamente como operava o ex-assessor do ministro José Dirceu dentro do Planalto? É uma lástima que seja assim. Melhor seria que a investigação seguisse nos escaninhos da PF e da Justiça.
Mas a PF parou de investigar parte do caso porque o Ministério Público antecipou a denúncia para uma das ramificações das traficâncias. Como não haverá CPI, é possível que nada fique esclarecido. O país às vezes prefere não se olhar no espelho. Tem medo do que pode enxergar.


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