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CARLOS HEITOR CONY
Nós, que éramos loucos
RIO DE JANEIRO - Almoço com Márcio Moreira Alves, fazendo o balanço
da última eleição na Academia, mas
logo derivando para o mais interessante, que foram os tempos de mocidade, quando trabalhávamos no
mesmo jornal e mudamos nossas vidas para sempre.
- Como éramos loucos! - diz
Márcio, que em 1964 e mais tarde, em
1968, teve a cabeça a prêmio, após o
seu discurso na Câmara dos Deputados que provocaria o AI-5.
Tudo começou há 40 anos. Nosso
editor-chefe era Edmundo Moniz,
um dos cinco ou seis salvados do incêndio trotskista, que cabiam todos
numa "Kombi" ideológica. O "Correio da Manhã" publicara dois editoriais truculentos contra o governo de
João Goulart, que era acusado de comunista e peleguista. Pela sua formação revolucionária, Edmundo deveria defender aquele governo, mas o
jornal todos os dias mandava brasa
em cima de Jango.
Veio o golpe e passamos a condenar
os militares vitoriosos, mesmo sem
dar razão aos vencidos. Foi um início
de ameaças físicas e prisões, Marcito
era ainda um garotão, apesar de já
ter ganhado um Prêmio Esso de Jornalismo, quando foi baleado na Assembléia Legislativa de Alagoas.
Eu era neófito no jornalismo político, nada entendia de nada, como até
hoje não entendo. Mas, junto com
Marcito, Carpeaux, Hermano Alves e
o próprio Edmundo, depois o Callado, éramos violentos na hora de escrever na mesma medida em que
éramos pacíficos na vida pessoal.
Em 65, dividimos a cela da PE, na
rua Barão de Mesquita, ele foi eleito
deputado federal, emprestei-lhe meu
Simca Chambord para a campanha,
depois fiquei sabendo que Marcito
havia gastado duas vezes mais o valor do carro em oficinas e reparos.
Veio 68, na véspera do AI-5, em sua
casa, no Parque Guinle, comemoramos a negativa da Câmara dos Deputados em atender ao governo que
desejava processá-lo. No dia 13, nos
separamos, ele no exílio, caçado ferozmente por um Exército vitorioso,
eu na prisão. Sim, como éramos loucos.
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