São Paulo, sábado, 03 de abril de 2010

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MARCIO AITH

Nova mídia, velha moda

SÃO PAULO - Só um ingênuo desprezaria o impacto potencial da internet nas eleições. Afinal, ao lado do celular, redes sociais e e-mails aproximam candidatos e eleitores, campanhas e financiadores.
Mas parece haver uma dose de exagero, salpicada de modismo, na suposição de que internet será prioritária nas eleições brasileiras de 2010, assim como o foi na campanha de Barack Obama. Por um motivo: o sistema eleitoral americano está para o brasileiro assim como o golfe está para o baralho.
Nos Estados Unidos o voto não é obrigatório e os eleitores, em sua esmagadora maioria, são registrados a partidos políticos. Ganha, então, o candidato que convencer o eleitor de seu próprio partido a levantar-se da poltrona. E qual é a melhor forma de fazer isso? Com mensagens, pela internet e pelo celular, direcionadas ao eleitor cativo nos dias que antecedem o pleito. Já no Brasil, onde o voto é obrigatório, eleitores formam filas sem que ninguém, além das autoridades, os convença a sair de casa.
Nos EUA, onde não há horário eleitoral gratuito na TV, candidatos rebolam para financiar inserções nas grandes redes. E parte do dinheiro vem de contribuições feitas pela internet. Ou seja, novas mídias ajudam a financiar a velha mídia.
No Brasil, onde 97% dos domicílios têm acesso à TV aberta (contra 18% da internet), emissoras são obrigadas a reservar horários entre programas de maior audiência para o cumprimento da propaganda eleitoral gratuita. Aqui, os candidatos não caçam: a comida cai do céu.
Isso não tira a utilidade da internet. A rede será útil a candidatos com menos tempo na TV, espalhará ataques pessoais e formará, entre os jovens, nas candidaturas mais moderninhas, um clima de "pertencimento". Não muito além disso.
No Brasil, enquanto perdurar o anacronismo da lei eleitoral, repleta de tutelas e obrigatoriedades, estaremos "protegidos" do avanço da internet. Não será desta vez.


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