|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARCIO AITH
Nova mídia, velha moda
SÃO PAULO - Só um ingênuo desprezaria o impacto potencial da internet nas eleições. Afinal, ao lado
do celular, redes sociais e e-mails
aproximam candidatos e eleitores,
campanhas e financiadores.
Mas parece haver uma dose de
exagero, salpicada de modismo, na
suposição de que internet será prioritária nas eleições brasileiras de
2010, assim como o foi na campanha de Barack Obama. Por um motivo: o sistema eleitoral americano
está para o brasileiro assim como o
golfe está para o baralho.
Nos Estados Unidos o voto não é
obrigatório e os eleitores, em sua
esmagadora maioria, são registrados a partidos políticos. Ganha, então, o candidato que convencer o
eleitor de seu próprio partido a levantar-se da poltrona. E qual é a
melhor forma de fazer isso? Com
mensagens, pela internet e pelo celular, direcionadas ao eleitor cativo
nos dias que antecedem o pleito. Já
no Brasil, onde o voto é obrigatório,
eleitores formam filas sem que ninguém, além das autoridades, os
convença a sair de casa.
Nos EUA, onde não há horário
eleitoral gratuito na TV, candidatos
rebolam para financiar inserções
nas grandes redes. E parte do dinheiro vem de contribuições feitas
pela internet. Ou seja, novas mídias
ajudam a financiar a velha mídia.
No Brasil, onde 97% dos domicílios têm acesso à TV aberta (contra
18% da internet), emissoras são
obrigadas a reservar horários entre
programas de maior audiência para
o cumprimento da propaganda
eleitoral gratuita. Aqui, os candidatos não caçam: a comida cai do céu.
Isso não tira a utilidade da internet. A rede será útil a candidatos
com menos tempo na TV, espalhará
ataques pessoais e formará, entre
os jovens, nas candidaturas mais
moderninhas, um clima de "pertencimento". Não muito além disso.
No Brasil, enquanto perdurar o
anacronismo da lei eleitoral, repleta de tutelas e obrigatoriedades, estaremos "protegidos" do avanço da
internet. Não será desta vez.
Texto Anterior: Editoriais: A escolha de Meirelles Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: O PMDB grande Índice
|