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OS SEM-CRITÉRIO
"A bola é minha e por isso eu
escolho quem vai jogar em
qual time e também sou eu quem vai
dizer quando o jogo acaba". É um
pouco nessa típica reação infantil
que incorre o Ministério do Desenvolvimento Agrário ao mudar as denominações do programa de reforma agrária de modo a transformar
"cadastrados" em "assentados".
O ministério não é o "dono da bola", mas detém a caneta que assina as
portarias. E foi por meio de uma portaria, baixada quatro dias depois de
esta Folha ter publicado a primeira
de uma série de reportagens demonstrando que a pasta vinha inflando os números da reforma agrária, que o ministro José Abrão resolveu oficializar a maquiagem.
Segundo a portaria, a MDA/Nš 080
-24/04/2002, o "assentado" passa a
ser definido como "o candidato inscrito que, após ter sido entrevistado,
foi selecionado para ingresso" no
programa de reforma agrária. Pelo
critério anterior, uma família só deveria ser considerada assentada
quando tinha seu lote demarcado,
recebia infra-estrutura básica (água,
luz e esgoto) e créditos para construir casas e comprar alimentos, entre outros benefícios.
Pelas novas definições estabelecidas, a área em que o assentado será
instalado nem precisa estar em mãos
do governo. Basta que seja "terra
identificada, incorporada ou em processo de incorporação" ao programa
de reforma agrária.
Essa "canetada" do ministério, em
que pese sua singelez e transparência, ficaria bem num romance do
realismo fantástico sobre a pouca seriedade de certos regimes políticos
da América Latina. Ela não se coaduna, entretanto, com um governo que
se pretende sério e que proclama estar realizando a maior reforma agrária da história do Brasil.
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