|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARCELO BERABA
Informações falsas
RIO DE JANEIRO - As estatísticas de crimes no Rio estão sob suspeita. Há
evidências de que tenham sido distorcidas para ocultar o crescimento
do número de roubos, furtos e homicídios. O número de homicídios em
São Paulo também está sendo revisto
porque há indicações de que possa ter
sido maquiado. O mesmo aconteceu
com dados do governo federal relativos à reforma agrária.
Esses exemplos, que envolvem três
das mais importantes unidades administrativas da República, atestam
o grau de descompromisso desses governos com o princípio da transparência nos negócios públicos.
Na raiz dessas manipulações está a
concepção de que as informações relativas à administração pública são
patrimônio privado dos governantes
da vez. Os números são divulgados
apenas quando lhes interessam, porque, na visão da maior parte deles,
são apenas peças de publicidade política e eleitoral.
Em 1974, durante o regime militar,
os jornais foram impedidos de divulgar com detalhes a epidemia de meningite que atingiu uma boa parte do
país. A ditadura considerava a publicação das estatísticas da doença uma
propaganda negativa ao governo.
Por causa disso, a população ficou
desinformada e a epidemia grassou
com mais violência e rapidez.
A censura prévia dos militares foi
substituída pela ocultação e pela manipulação, sempre com os mesmos
objetivos propagandísticos. Essas
práticas deveriam ser tratadas como
crimes. Porque o resultado é sempre
danoso para a população.
Rio e São Paulo vivem um estado
de guerra civil, mas a base de informação para uma ação inteligente e
eficaz da polícia foi minada porque
as estatísticas são inconfiáveis.
O Brasil não dispõe de legislação
que garanta o acesso da população a
informações oficiais e que responsabilize os governos pela divulgação de
dados falsos. A ocultação e a manipulação de dados retardam o processo de amadurecimento democrático
do país e afetam a sua segurança.
Texto Anterior: Brasília - Marta Salomon: Números sob tortura Próximo Texto: José Sarney: Napoleão, o café! Índice
|