São Paulo, sexta-feira, 03 de maio de 2002

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MARCELO BERABA

Informações falsas

RIO DE JANEIRO - As estatísticas de crimes no Rio estão sob suspeita. Há evidências de que tenham sido distorcidas para ocultar o crescimento do número de roubos, furtos e homicídios. O número de homicídios em São Paulo também está sendo revisto porque há indicações de que possa ter sido maquiado. O mesmo aconteceu com dados do governo federal relativos à reforma agrária.
Esses exemplos, que envolvem três das mais importantes unidades administrativas da República, atestam o grau de descompromisso desses governos com o princípio da transparência nos negócios públicos.
Na raiz dessas manipulações está a concepção de que as informações relativas à administração pública são patrimônio privado dos governantes da vez. Os números são divulgados apenas quando lhes interessam, porque, na visão da maior parte deles, são apenas peças de publicidade política e eleitoral.
Em 1974, durante o regime militar, os jornais foram impedidos de divulgar com detalhes a epidemia de meningite que atingiu uma boa parte do país. A ditadura considerava a publicação das estatísticas da doença uma propaganda negativa ao governo. Por causa disso, a população ficou desinformada e a epidemia grassou com mais violência e rapidez.
A censura prévia dos militares foi substituída pela ocultação e pela manipulação, sempre com os mesmos objetivos propagandísticos. Essas práticas deveriam ser tratadas como crimes. Porque o resultado é sempre danoso para a população.
Rio e São Paulo vivem um estado de guerra civil, mas a base de informação para uma ação inteligente e eficaz da polícia foi minada porque as estatísticas são inconfiáveis.
O Brasil não dispõe de legislação que garanta o acesso da população a informações oficiais e que responsabilize os governos pela divulgação de dados falsos. A ocultação e a manipulação de dados retardam o processo de amadurecimento democrático do país e afetam a sua segurança.



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