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TENDÊNCIAS/DEBATES
O PT e a síndrome de Sassá Mutema
RICARDO MONTORO
Um espectro ronda as eleições de
2002, o espectro do salvacionismo.
O recente artigo publicado neste espaço, assinado pelo competente professor
Fernando Haddad ("PSDB e PFL", pág.
A3, 25/4), não deixa dúvidas: o PT entrou para a fileira de partidos cuja missão consiste em atacar a tudo e a todos
no afã de se elevar ao Olimpo, como divindades tupiniquins. Dessa forma, o
PT iguala-se ao rechonchudo populismo fervoroso e ao voluntarismo malcriado e rude cuja cabeça pensa com sotaque.
Todavia a vida pública não é feita nas
montanhas da Tessália, mas nas ações
cotidianas, com avanços e retrocessos,
agarrando as possibilidades que estão
colocadas à frente.
O professor Fernando Haddad acusa
os tucanos de terem fornecido a moldura teórica adequada para sustentar as
práticas pefelistas, cuja orientação estaria baseada no contraditório conceito
de "patrimonialismo moderno" (sic).
Ora, se existe algo inquestionável nos
governos do PSDB é o fato de que estes
produziram condições permanentes
para o declínio do poder das velhas oligarquias regionais, que desde sempre se
locupletaram da coisa pública.
Essa opinião é partilhada inclusive
por vários colegas do professor Fernando Haddad, cientistas políticos que
vêem na reforma do Estado -com as
privatizações que eliminaram do mapa
da fisiologia mais de cem estatais, nas
conquistas sociais; com a melhoria dos
índices educacionais e de saúde, na modernização da economia e na progressiva democratização do acesso à informação; com a eliminação dos critérios políticos para a concessão de rádios e
TVs- os motivos fundamentais para a
evidente perda do charme e do prestígio
dos caciques regionais.
Os episódios recentes que abalaram a
Bahia, o Pará e o Maranhão não nos deixam mentir. Como também parece factível imaginar que não foi exatamente o
PFL o grande beneficiado com essa mudança... Muito pelo contrário.
O Brasil avançou muito nos últimos
oito anos. A estabilidade econômica,
conquista que já parecia desbotada, recupera seu valor quando observados
nossos vizinhos sul-americanos. Mas o
Brasil conseguiu ir além. Arranhamos a
perversa estrutura secular da desigualdade e estamos prontos para crescer. O
contingente de pobres foi fortemente
reduzido; o acesso ao ensino fundamental foi universalizado, com a perspectiva da erradicação do analfabetismo nos próximos cinco anos; a mortalidade infantil diminuiu e a expectativa
de vida aumentou.
Alguém já disse que querer salvar um país é sublime, julgar ser o próprio salvador é grotesco
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Só não avançamos mais porque alguns, que agora estão se portando como
salvadores da pátria, atuaram contra
nessa dura caminhada. Mas estamos
prontos para crescer e nos firmarmos,
neste século, como um país mais justo e
próspero.
E o PT, o que faz? Além de ter buscado
todas as chances para sabotar os avanços, colocando-se sempre na situação
de oposição intransigente, tem demonstrado extrema inépcia onde é governo.
O professor Fernando Haddad divagou sobre a teoria e a prática. Entretanto, como observador privilegiado da alcaidina paulistana, deveria ter notado
que a grande incoerência entre teoria e
prática está na experiência do PT na cidade de São Paulo. A não ser que esteja
escrito no epítome petista o loteamento
de cargos e a redução das verbas da educação, o PT pratica em São Paulo exatamente o contrário do que prega.
Foi assim no aumento do preço das
passagens de ônibus, afetando diretamente o bolso do trabalhador. Foi assim
no loteamento das regionais, prática
malufista perpetuada pela atual gestão.
O PT também herdou do malufismo a
intolerância e o autoritarismo, pois persegue um de seus parlamentares por defender, com coerência e ética, os recursos da educação. Infelizmente a cidade
assiste à formação de uma aliança macabra entre o PT e as práticas malufistas,
que tanto penalizaram São Paulo.
É inegável que o Brasil precisa avançar
mais. Ainda pesa sobre nós um duro legado de desigualdade e de desapego à
coisa pública, problemas que serão
agravados com a conduta messiânica
que se tenta impor.
Alguém já disse que querer salvar um
país é sublime, julgar ser o próprio salvador é grotesco. O PT vive a síndrome
de Sassá Mutema.
Ricardo Montoro, 52, economista, vereador, é
líder do PSDB na Câmara Municipal de São Paulo.
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