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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Protesto e festa no 1º de Maio
SÃO PAULO - Houve muito protesto e pancadaria no 1º de Maio
grego. Manifestantes e policiais se
enfrentaram em batalhas campais
em Atenas, a capital, e em Tessalônica, norte do país. Jovens apedrejaram bancos e lojas. Carros e caixas eletrônicos foram destruídos. A
polícia reagiu com bombas e gás lacrimogêneo. Baixou o cassetete nos
descendentes de Sócrates.
As imagens exibidas pela TV
eram fortes, mas a Grécia, que vive
à beira de um colapso econômico,
esteve longe de ser um caso isolado
de insatisfação. Na Espanha, onde a
taxa de desemprego superou os
20%, milhares de pessoas protestaram contra as políticas do governo.
Na França, os sindicatos ocuparam as ruas para fazer barulho contra a reforma do sistema previdenciário. Na Alemanha, a polícia teve
que usar a força e prender muita
gente para evitar cenas já tradicionais de confronto entre manifestantes de esquerda e neonazistas.
Houve protestos em Portugal, na
Áustria, na Suíça. O Dia do Trabalhador na Europa foi marcado pela
reação aos efeitos da crise econômica. Apesar de tudo, ainda são sociedades organizadas. Em geral, o governo está de um lado e os manifestantes estão do outro.
O contraste com o Brasil não poderia ser maior. Aqui, a festa das
centrais sindicais, todas a favor do
governo, contou com o apoio financeiro de empresas estatais. Não
houve protestos. Foi só alegria.
Quem desafia a lei no 1º de Maio
brasileiro é o presidente da República. A oposição esperneia, mas no
fundo ninguém liga. A infração cordial da norma é a nossa verdadeira
ordem. E o que atraí a multidão aos
palcos do peleguismo não é a pregação político-eleitoral, mas o ambiente de auditório. A massa vibra
com o sorteio de carros e se esbalda
ouvindo KLB, Lincon & Luan...
Com seu carisma, pulando de
evento em evento, Lula parece ser
uma espécie de Getúlio pós-moderno. Brinca de inflamar as plateias,
mas no fundo celebra a comunhão
nacional de um país cujos conflitos
só ele sabe anestesiar.
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