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São Paulo, terça-feira, 03 de junho de 2003

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CORRIDA MALUCA

Pode-se medir o grau de civilização de um país pela forma como seus habitantes se comportam no trânsito. O Brasil, nesse quesito, está reprovado. O país mata mais do que o triplo de nações civilizadas. Enquanto na Europa e nos EUA a média é de duas mortes/ano por 10 mil veículos, aqui é de 6,8.
A violência sobre rodas tem alto custo. Pesquisa inédita coordenada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) calcula as perdas anuais com acidentes automobilísticos em R$ 5,3 bilhões. Para essa conta, só foram consideradas as áreas urbanas. O item que mais pesou foi o afastamento temporário ou definitivo do trabalho (42,8% dos custos), seguido das despesas com os veículos (28,8%) e com o atendimento médico-hospitalar e a reabilitação (14,5%). As maiores perdas -a dor de vítimas e familiares- não podem evidentemente ser quantificadas.
É verdade que a situação já foi pior. O Código de Trânsito Brasileiro, que passou a vigorar em 1998, trouxe avanços importantes. Ao obrigar o uso do cinto de segurança em todo o território nacional, tornou os acidentes menos letais. Ao permitir a utilização de radares, reduziu a velocidade nos centros urbanos que se valeram dessa tecnologia. O resultado pode ser mensurado. Na cidade de São Paulo, por exemplo, o número de mortos por acidentes diminuiu mais de 25% de 1999 a 2000.
Apesar da melhora, o trânsito brasileiro continua produzindo cerca de 30 mil mortos por ano. Para reduzir essa carnificina é preciso tomar atitudes enérgicas principalmente em alguns segmentos, como o das motos. De cada 100 acidentes com moto, 71 deixam vítimas. No caso de automóveis, a relação é de 100 para 7. Também o álcool é um grande matador. Pesquisa feita por médicos do Hospital das Clínicas de São Paulo no Instituto Médico Legal revelou que, dos 2.360 mortos no trânsito, 48,9% tinham concentração de álcool no sangue superior à permitida.
Definir políticas públicas para esses e outros calcanhares-de-aquiles do trânsito é o primeiro passo para que o Brasil deixe de ser um país de bárbaros motorizados.


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