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CLÓVIS ROSSI
Efervescência e espetáculo
GENEBRA - Marco Aurélio Garcia, o assessor diplomático do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, é uma dessas pessoas com as quais vale a pena
trocar idéias, porque nunca se sai
perdendo.
Entre outros muitos fatores, por um
bom humor às vezes insuportável,
porque você precisa de informação e
ele responde com uma "boutade".
Foi assim no domingo, quando telefonei para me informar sobre as
conversas do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva com governantes estrangeiros. Marco Aurélio começou
de fato a contar alguma coisa, mas
logo disparou:
"Já alugamos o teatro".
De que diabos estaria falando?
"Alugamos o teatro para o espetáculo do crescimento", explicou por
fim, em alusão à frase do presidente,
na semana anterior, que usou essa
mesma expressão.
Ontem, foi a vez de o ministro do
Trabalho, Jaques Wagner, entrar no
jogo. "Não existe no governo pessoa
mais desenvolvimentista e de esquerda do que o presidente da República", disse.
Para o ministro, Lula "está topando até agora" a ortodoxia monetária
e fiscal, "mas sabe que tem de fazer a
virada".
Por fim, o deputado Vicente Paulo
da Silva (PT-SP), ex-presidente da
CUT e uma das pessoas com as quais
Lula mais se identifica, admite ter
suas dúvidas e inquietações sobre o
rumo econômico até agora seguido,
mas confessa a mais irrestrita e inquebrantável confiança em que seu
amigo, agora presidente, vá fazer as
coisas acontecerem.
Todos esses fiapos de conversa com
gente que pode ser acusada de tudo,
menos de infidelidade ao partido a
que pertence e ao governo ao qual
serve ou apóia, revelam duas coisas:
a efervescência que há no governo e
no partido e o desejo de preservar o
presidente do desgaste pela ansiedade em torno de uma mudança na
economia.
Se o "espetáculo" para o qual já foi
alugado o teatro não começar logo, a
efervescência aumentará e encolherá
o escudo em torno de Lula.
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