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São Paulo, terça-feira, 03 de junho de 2003

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VALDO CRUZ

Língua solta

BRASÍLIA - Nos últimos dias, o Brasil tinha dois presidentes. Um estava na Europa. O outro, no Palácio do Planalto. Talvez influenciados pelo clima de continentes diferentes, os dois não estavam falando a mesma língua no dia de ontem.
Da capital, o presidente José Alencar acionou mais uma vez sua metralhadora verbal contra os juros altos. Quebrando um voto de silêncio que se auto-impusera quando estivesse substituindo Lula, defendeu que a decisão sobre os juros tem de ser política, não técnica.
De Genebra, o titular mandou seu recado: não se baixam juros com bravatas. Elogiou Antonio Palocci, aquele que prefere o caminho técnico ao político, arrematando que seu ministro da Fazenda chega a ser mais equilibrado do que ele.
Será que Lula quis dizer que seu vice está perdendo o equilíbrio? Parece que não. As entrevistas dos dois companheiros, separados pelo Atlântico, foram quase simultâneas. Não foi uma resposta pensada.
O presidente, porém, anda incomodado com o estilo nada mineiro de José Alencar. As críticas do vice estão trazendo para dentro do governo uma polêmica que Lula gostaria de ver bem distante do Planalto.
O petista sabe que seu vice não faz as críticas para desgastá-lo. Mas seus insistentes ataques podem passar a imagem de que só ele defende os juros baixos no governo, enquanto Lula e Palocci ficam do lado oposto, numa posição mais conservadora.
O bombardeio do vice desagrada ainda mais ao presidente porque ele também se considera insatisfeito com a demora na queda dos juros. Só que está convencido de que o caminho de Palocci é o correto e seguro.
José Alencar conhece a posição de Lula sobre o assunto. Mas não pretende abrir mão de sua cruzada. Defende um debate público sobre os juros altos até que eles caiam. Verbaliza a posição do empresariado.
Seu risco é ficar alijado do centro de decisão. Por sinal, há gente próxima a Lula que defende "isolamento-já".


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