São Paulo, sexta-feira, 03 de junho de 2011

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Esperando o PMDB

SÃO PAULO - O ministro Antonio Palocci se tornou um morto-vivo, uma espécie de zumbi no cargo que ainda ocupa mas já não exerce. Em menos de 20 dias, o superministro virou um espectro dentro do Planalto. Sua presença calada é um estorvo para todos. Trata-se do silêncio mais intrigante (e mais óbvio) da República em muitos anos.
Circulava ontem, entre petistas, que Palocci decidiu, enfim, falar. Estamos todos curiosos para ouvir o Godot de Ribeirão Preto. Mas talvez suas palavras cheguem tarde demais. A não ser que o artista surpreenda a plateia. A ponto de explicar, inclusive, porque demorou tanto para apresentar provas tão cabais de que não é apenas um exímio consultor, mas um homem público de conduta irrepreensível.
O contraste e a simetria com o escândalo do caseiro dão o que pensar. Lá, num impulso delinquente, a máquina do Estado foi mobilizada para violar o sigilo do mais fraco. Agora, numa atitude deliberada, trata-se de evitar que o sigilo dos negócios do futuro ministro com os mais fortes venha à luz. Nos dois episódios, sacrifica-se o interesse público em nome do benefício pessoal ou dos ganhos privados.
Em termos políticos, a pergunta, hoje, talvez não seja mais "quem ainda quer segurar Palocci no poder?", mas, antes, "que diferença isso faz?". O empresariado parece já ter assimilado os custos do que se afigura como inevitável. E o PT, embora tenha receio do avanço do PMDB sobre Dilma, não faz qualquer ação orgânica em defesa do ministro. Pelo contrário, mais e mais petistas enchem a boca para dizer: "Palocci deve explicações".
O PMDB nem precisou esperar a queda do ministro. As ações da governabilidade subiram no mercado parlamentar e o partido dos negócios as oferece preferencialmente à presidente. Dilma não tem muito espaço para recusar o comércio e vai assumindo o papel de que tentava escapar desde o início. Na definição do filósofo Marcos Nobre: a de "síndica do peemedebismo".


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