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São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Princípios

SÃO PAULO - O Brasil é o paraíso da impunidade e os Estados Unidos são o maior exemplo de aplicação implacável da "rule of law", certo?
Na maior parte do tempo, sim. No governo George Walker Bush, decididamente não. O anúncio de que serão retaliados países que não assinaram acordo para livrar norte-americanos de processos no TPI (Tribunal Penal Internacional) é tipicamente um habeas corpus preventivo a favor da impunidade.
Não é, em todo o caso, o único exemplo de como, crescentemente, a administração Bush joga princípios no lixo ante o silêncio da comunidade internacional ou o conformismo a posteriori.
O caso do Iraque é apenas um deles. Os EUA foram à guerra sem respaldo das Nações Unidas, mentiram a respeito da ameaça representada pelas armas de destruição em massa, ganharam a guerra (como era, aliás, previsível e inevitável) e ficou tudo por isso mesmo.
É até possível que o mundo fique melhor sem Saddam Hussein, embora haja controvérsias a respeito de como ficam os iraquianos. Entre um carniceiro como Saddam e a balbúrdia que o sucedeu, a diferença não é visível a olho nu, ao menos no cotidiano dos iraquianos.
O caso palestino é parecido. Podem-se ter todas as restrições do mundo a Iasser Arafat. Mas não se pode ignorar que é o único governante árabe cuja eleição foi legitimada pela comunidade internacional.
Arafat acaba de ser deposto pelo governo Bush, coadjuvado por Israel, e ninguém diz nada. Mahmoud Abbas (Abu Mazen) pode ser tudo o que se quiser, mas não é um grama mais legítimo que Arafat.
Se o processo de paz de fato avançar, será muito mais pelo triunfo militar de Israel do que pela ausência (ou presença) de Arafat.
Quando se começa aceitando que fins supostamente legítimos justificam os meios, rifam-se todos os princípios no fim do caminho.


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