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CLÓVIS ROSSI
Princípios
SÃO PAULO - O Brasil é o paraíso da impunidade e os Estados Unidos são
o maior exemplo de aplicação implacável da "rule of law", certo?
Na maior parte do tempo, sim. No
governo George Walker Bush, decididamente não. O anúncio de que serão retaliados países que não assinaram acordo para livrar norte-americanos de processos no TPI (Tribunal
Penal Internacional) é tipicamente
um habeas corpus preventivo a favor
da impunidade.
Não é, em todo o caso, o único
exemplo de como, crescentemente, a
administração Bush joga princípios
no lixo ante o silêncio da comunidade internacional ou o conformismo a
posteriori.
O caso do Iraque é apenas um deles.
Os EUA foram à guerra sem respaldo
das Nações Unidas, mentiram a respeito da ameaça representada pelas
armas de destruição em massa, ganharam a guerra (como era, aliás,
previsível e inevitável) e ficou tudo
por isso mesmo.
É até possível que o mundo fique
melhor sem Saddam Hussein, embora haja controvérsias a respeito de como ficam os iraquianos. Entre um
carniceiro como Saddam e a balbúrdia que o sucedeu, a diferença não é
visível a olho nu, ao menos no cotidiano dos iraquianos.
O caso palestino é parecido. Podem-se ter todas as restrições do
mundo a Iasser Arafat. Mas não se
pode ignorar que é o único governante árabe cuja eleição foi legitimada
pela comunidade internacional.
Arafat acaba de ser deposto pelo
governo Bush, coadjuvado por Israel,
e ninguém diz nada. Mahmoud Abbas (Abu Mazen) pode ser tudo o que
se quiser, mas não é um grama mais
legítimo que Arafat.
Se o processo de paz de fato avançar, será muito mais pelo triunfo militar de Israel do que pela ausência
(ou presença) de Arafat.
Quando se começa aceitando que
fins supostamente legítimos justificam os meios, rifam-se todos os princípios no fim do caminho.
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