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São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Tremores de terra

BRASÍLIA - No MST, João Pedro Stédile negocia com o governo, enquanto a turma bota pra quebrar, invadindo em diferentes pontos do país.
Na CUT, Luiz Marinho convive bem com o governo e não tira os pés de Brasília, onde acerta mudanças na reforma da Previdência suficientes para ter o que dizer "às bases" sem ferir a alma da proposta oficial. Mas os servidores abriram dissidência e querem criar central própria.
O que se vê, portanto, é uma boa relação do Planalto com as cúpulas dos velhos aliados do PT, mas tensão e prenúncios de falta de controle das tais "bases". E elas fazem barulho.
A antecipação da reunião de Lula com o MST para ontem deu-se por constatações assim, mas não é possível projetar efeitos a médio prazo. O MST pediu mais assentamentos e o governo foi todo ouvidos. E daí?
Na CUT, Marinho está convencido de que a dissidência dos servidores não vai virar uma nova central. Se eu fosse ele, não teria tanta certeza. Há um longo histórico de raiva do governo FHC e de mágoa com as centrais, todas cravadas em São Paulo, na indústria e no comércio, sem vínculo com o funcionalismo. Não se conhecem documentos nem empenho para encampar os interesses deles -como se fossem seres "de Brasília" ou, quem sabe, "do Nordeste". Mas são 6,5 milhões no país.
Agora, há também a raiva do governo Lula. As aposentadorias precoces e com salário integral são indefensáveis, mas há muitas outras coisas em jogo, e o tom é de oposição.
Todos os líderes do movimento votaram em Lula e as referências ao governo não são exatamente elogios. De um: "O pessoal do Maranhão diz que é do PT. Do PT do Sarney!". De outro: "Estamos perplexos. É como bater num sonho". De um terceiro, pasmem: "Eu me arrependo de não ter votado no Serra".
A reforma da Previdência vai passar, mas as mágoas ficam. Lula e o Planalto precisam azeitar as relações com o MST, a CUT e os aparentados. Pelo visto, os acertos só de cúpula não estão dando para o gasto.


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