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ELIANE CANTANHÊDE
Tremores de terra
BRASÍLIA - No MST, João Pedro Stédile negocia com o governo, enquanto a turma bota pra quebrar, invadindo em diferentes pontos do país.
Na CUT, Luiz Marinho convive
bem com o governo e não tira os pés
de Brasília, onde acerta mudanças
na reforma da Previdência suficientes para ter o que dizer "às bases" sem
ferir a alma da proposta oficial. Mas
os servidores abriram dissidência e
querem criar central própria.
O que se vê, portanto, é uma boa relação do Planalto com as cúpulas dos
velhos aliados do PT, mas tensão e
prenúncios de falta de controle das
tais "bases". E elas fazem barulho.
A antecipação da reunião de Lula
com o MST para ontem deu-se por
constatações assim, mas não é possível projetar efeitos a médio prazo. O
MST pediu mais assentamentos e o
governo foi todo ouvidos. E daí?
Na CUT, Marinho está convencido
de que a dissidência dos servidores
não vai virar uma nova central. Se eu
fosse ele, não teria tanta certeza. Há
um longo histórico de raiva do governo FHC e de mágoa com as centrais,
todas cravadas em São Paulo, na indústria e no comércio, sem vínculo
com o funcionalismo. Não se conhecem documentos nem empenho para
encampar os interesses deles -como
se fossem seres "de Brasília" ou,
quem sabe, "do Nordeste". Mas são
6,5 milhões no país.
Agora, há também a raiva do governo Lula. As aposentadorias precoces e com salário integral são indefensáveis, mas há muitas outras coisas em jogo, e o tom é de oposição.
Todos os líderes do movimento votaram em Lula e as referências ao governo não são exatamente elogios.
De um: "O pessoal do Maranhão diz
que é do PT. Do PT do Sarney!". De
outro: "Estamos perplexos. É como
bater num sonho". De um terceiro,
pasmem: "Eu me arrependo de não
ter votado no Serra".
A reforma da Previdência vai passar, mas as mágoas ficam. Lula e o
Planalto precisam azeitar as relações
com o MST, a CUT e os aparentados.
Pelo visto, os acertos só de cúpula não
estão dando para o gasto.
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