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São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Walter Hugo Khouri

RIO DE JANEIRO - Acompanhei com interesse a carreira de Walter Hugo Khouri, falecido na semana passada. Contemporâneo da fase mais agitada do cinema, ele se recusou a embarcar na onda e escolheu o seu próprio caminho, o mais difícil, por sinal.
O cinema novo, como movimento de vanguarda, tinha a liberdade de tentar tudo. Qualquer câmara na mão e qualquer idéia ou falta de idéia na cabeça, e pronto, saía um filme, que as circunstâncias da época transformavam em obra fundamental e prima.
Khouri escolheu a trilha mais problemática, que o colocaria em confronto não com os gênios do cinema novo, que eram muitos, eram todos. Seu confronto seria com mestres que admirava, como Bergman e Antonioni, cineastas de outras culturas, servidos por recursos impossíveis de aqui serem obtidos, como a qualidade do som e da luz.
E buscou a temática universal, que não dividia a humanidade em bons e maus, em heróis e vilões, em pró ou contra o latifúndio, pró e contra isso ou aquilo.
Talvez tenha exagerado na insistência com que abordou o desafio do sexo, mas o fez com seriedade, sem apelos comerciais, sem caricaturar a questão, como acontecia no cinema novo, que, tratando de coisas julgadas mais sérias na ocasião, como a redenção do povo, a urgência da reforma agrária e a luta contra a opressão capitalista, sempre que abordava o sexo o fazia com o exagero da farsa e o mau gosto da grossura.
Outro dia, vi na TV um de seus filmes desdenhados pela crítica nacional, falado em inglês, legendado em português, com luz, som, fotografia e enquadramentos de um filme estrangeiro, fruto da insistência com que Walter Hugo Khouri respondia às críticas que o perseguiam desde os primeiros filmes.
E coisa rara: não mudei de canal, coisa que geralmente faço quando encontro, na tela, um coronel nordestino mandando surrar o coitado que se esqueceu de ordenhar a vaca de estimação,


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