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TENDÊNCIAS/DEBATES
O boné da insensatez
JORGE BORNHAUSEN
Antes que se completassem 24 horas, o mesmo boné que aparecia na
cabeça de um homem preso na zona da
mata de Pernambuco por saquear um
caminhão de cargas apareceu na cabeça
do presidente da República.
Se essa coincidência não representar
identidade entre os que usam o mesmo
boné, a lógica dos símbolos, que tanto
facilita a compreensão do mundo, precisa ser imediatamente revista.
Mas, se valem as fotos nas primeiras
páginas dos jornais de ontem e anteontem, o presidente da República e o MST
assumem a causa comum, ou seja, estão
embarcados na mesma nau insensata
que inquieta a nação. O presidente da
República, no mínimo, contemporizou
com os saques e desordens assumidamente realizados pelo MST, por pessoas
usando o boné comum. Ou há outra
forma de interpretar a foto do presidente Lula com o boné do MST?
De todas as temeridades -e bote temeridade nisso- que o presidente Lula
está cometendo, dia após dia, com seus
discursos estapafúrdios, que já ultrapassaram o anedotário, nenhuma pode
ser considerada mais grave que essa foto com o boné do MST.
Principalmente quando é público que
o presidente foi forçado a antecipar em
cinco dias a audiência, já agendada e
anunciada para 7 de julho, devido à explosão de invasões, saques e desordens
que o MST fazia pipocar no país inteiro.
Ou seja, submetendo-se à chantagem da
ameaça representada pela escalada de
ações do MST, o presidente alterou sua
agenda e recebeu apressadamente os dirigentes da organização, submetendo-se à cena de confraternização. Ou, em
vez de confraternização, foi uma cena
de constrangimento, típica da síndrome
de Estocolmo, o fenômeno psicológico
de dependência eufórica que submete
os reféns aos seus sequestradores?
Ora, todo mundo está cansado de saber que o MST não tem nada a ver com
os sem-terra e a reforma agrária.
Todos sabemos que o MST é um movimento político revolucionário que
apenas usa a grave questão campesina
para efeito de propaganda e, principalmente, de financiamento, pois recolhe
uma porcentagem considerável de todo
o dinheiro que o governo repassa aos
assentados; que o MST tornou-se até
massa de manobra de aluguel, usada
por grupos que precisam de equipes táticas treinadas em sabotagens, como se
viu na semana passada, no Paraná; que
o MST ameaça provocar uma nova
guerra de Canudos (a loucura crudelíssima que há um século explodiu no sertão da Bahia) no Pontal do Paranapanema, em São Paulo; que o MST tende a se
ampliar, agregando o que, na linguagem da própria esquerda radical, chamam de lúmpen urbano, com toda a
carga de risco que tal mobilização representa para um país sem meios, como
está sentindo o próprio governo do PT,
para implementar programas sociais
compensatórios pela desigualdade de
renda.
O presidente da República, no mínimo, contemporizou com os saques e desordens realizados pelo MST
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Como se explica, então, que o presidente da República apareça em público
com o boné do MST?
Minha responsabilidade de liderar
um partido de oposição -oposição
responsável e democrática, como a que
fazemos no PFL, que não grita "Fora
Lula!", mas que aposta na resposta eleitoral sensata à absoluta incompetência
do governo petista- obriga-me a um
protesto sério contra esse ato simbólico
e temerário do presidente da República.
É verdade que essa cumplicidade do
governo com o MST não se revelou apenas na foto do boné. Apesar do axioma
que diz que "uma imagem vale mil palavras", é bom não esquecer que o MST
tem a boa vontade do Ministério do Desenvolvimento Agrário, que, além do
Incra (cujos dirigentes foram indicados
ou apoiados diretamente pelo sr. Stedile), tem as verbas da agricultura familiar, um dos maiores investimentos públicos atuais da República.
Moral da história (ou imoralidade da
situação?): estamos diante de um daqueles episódios fortuitos em que estadistas, por inexperiência ou pura inadvertência, subvertem a própria ordem
legal que os elegeu e sustenta, condenando-se a ocasos melancólicos, porque o mesmo voto popular que o elegeu
em 2002 pode condená-lo em 2006.
Quem sabe, já nas eleições municipais
de 2004, como começam a indicar as
pesquisas, não teremos uma resposta a
desatinos como esse uso do boné da insensatez?
Quem lembrará ao presidente da República que ele não chegou ao poder levado por barricadas, invasões ou desordens, mas pelo voto legítimo da sociedade, que ele amealhou numa consagradora campanha eleitoral, prometendo manter as instituições democráticas,
que o MST chama de "democracia burguesa"?
Jorge Bornhausen, 65, senador pelo PFL-SC, é o presidente nacional do partido.
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