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São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Receitas para sair da lama

RIO DE JANEIRO - Quando um país cai num atoleiro, só há duas maneiras de tirá-lo da lama. Um deles, o da revolução, custa muito sangue até que a nova ordem, se for realmente boa, comece a dar resultados.
O outro meio é encarar o atoleiro, descerem todos do carro e quebrarem o galho trazendo tábuas, folhagens, o que for possível, para livrar a roda da lama que a entrava. Numa palavra: o trabalho, a mão-de-obra que obriga todos a saltaram do carro e procurarem o que fazer com as mãos e o suor para vencer a lama.
Por respeitáveis motivos, o exemplo do primeiro ano do nazismo no poder, em 1933, não costuma ser lembrado. O horror final da guerra e dos campos de extermínio obscureceu a solução encontrada para tirar a República de Weimar do atoleiro: o trabalho. Desceram do carro, foram ver o que podiam fazer de imediato, o desemprego diminuiu, a inflação baixou. Um amigo, judeu polonês que vivia na Alemanha, levou meses abrindo uma estrada na qual só passariam carros 15 anos depois, e carros de combate dos russos que conquistariam Berlim. As grandes "reformas" que levariam a Alemanha ao desastre e a cobririam de opróbrio vieram depois, e aos poucos.
O exemplo talvez nem devesse ser citado, mas tivemos aqui no Brasil um presidente que nada reformou, aceitou as limitações da Constituição castradora do Poder Executivo, a de 1946, enfrentou dívidas enormes, inflação em processo, graves crises políticas e duas sedições militares. Mas, sem nenhum cunho ideológico, abriu tantas frentes de trabalho que, como disse Maria Victoria Benevides, alterou o status quo da economia e da sociedade brasileira, sem dar um tiro, e com as garantias democráticas em vigor.
Outro dia, lembrei o espírito reformista dos últimos anos do governo Goulart. O país parou, só se pensava em reformar isso e aquilo, nada deveria ser feito enquanto não se mudassem as regras do Estado. Deu no que deu.


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