São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2008

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Editoriais

Sem limites

A PRIORIDADE ao investimento público continua sendo mais um slogan do que uma prática. É o que demonstram os números recém-divulgados das receitas e despesas do setor público brasileiro no primeiro semestre deste ano.
Beneficiadas pelo crescimento da atividade econômica, as receitas continuaram a galopar. No caso do Tesouro Nacional, o crescimento sobre o primeiro semestre de 2007 foi de 15,8%, a despeito da extinção da CPMF. Mas essa forte alta da arrecadação continua a ser, em grande medida, dissipada por meio de gastos correntes, que também aumentam com velocidade.
Soma-se a isso o aumento da despesa com juros. Pressionado por vários fatores, de maio para junho o gasto com juros acumulado em 12 meses subiu de 6,06% para 6,21% do PIB.
Essa combinação de gastos correntes e financeiros em alta consome grande parte do aumento da arrecadação -de modo que o "excedente" disponível para a realização de investimentos segue minguado. É essa, ao lado de persistentes falhas gerenciais, a razão de o ritmo das obras de infra-estrutura do PAC continuar frustrante.
Ao anunciar o PAC, no início de 2007, o governo Lula apresentou proposta para limitar o aumento das despesas correntes. Essas regras, que acabaram esquecidas, fazem muita falta, tanto mais numa conjuntura em que há importantes pressões inflacionárias a combater.
Na ausência de moderação no gasto corrente, o aumento de juros é o único instrumento para frear a demanda e, por conseguinte, os preços. É sabido que juros ainda mais altos tendem a realimentar círculos viciosos indesejáveis, ao pressionar as despesas financeiras do setor público e reforçar a apreciação do real.
Mas a opção mais saudável, de moderar os gastos públicos correntes, continua desprezada.


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