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VAGUINALDO MARINHEIRO
Pinóquio e os cigarros
SÃO PAULO - No desenho animado "Pinóquio", lançado pelo Disney
em 1940, Gepeto dá os últimos retoques no boneco de madeira e vai
dormir. Antes de fechar os olhos,
fuma um cachimbo e o pendura na
cabeceira da cama. Em "101 Dálmatas", da mesma Disney, tanto a vilã
Cruela quanto o herói Roger, dono
do cachorro Pongo, fumam o tempo
todo. Ela, cigarros. Ele, cachimbo.
Havia alguma razão artística para
as baforadas ou Walt Disney ganhava dinheiro da indústria do tabaco
para transformar os pequenos em
futuros fumantes? Qualquer que
seja a resposta, a verdade é que cigarros e afins desapareceram dos
desenhos infantis, acompanhando
o processo de satanização do vício.
Agora, a lei estadual que proibirá
fumar em lugares públicos fechados a partir de sexta veta também o
cigarro em peças de teatro.
A medida provocou uma grita.
Antonio Fagundes e Mika Lins disseram à Ilustrada que não cortarão os cigarros de suas montagens e
desafiaram o Estado a multá-los.
Argumentam que há cerceamento
à liberdade artística e que cigarros,
às vezes, têm função na trama.
É bem provável que os atores ganhem essa batalha. Proibir o cigarro no palco é um dos aspectos estúpidos da nova legislação que devem
ser alterados. É besteira achar que
um cigarro fumado em cena afete a
saúde dos espectadores.
Já a guerra dos fumantes em geral contra a lei parece perdida. É no
mínimo civilizado aceitar que os tabagistas, que por muito tempo desfrutaram da liberdade de fumar onde quisessem, respeitem agora o direito dos que querem um ar um
pouco menos sujo.
Muitos alegam que o Estado interfere demais na vida das pessoas
e que não seria necessária mais
uma lei para determinar a relação
entre elas. Mas, assim como Gepeto
pode, para o bem das crianças, aparecer tomando leitinho antes de
dormir, os que ainda quiserem fumar podem, para o bem dos demais, ir até a calçada para fazê-lo.
vmarinheiro@uol.com.br
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