São Paulo, segunda-feira, 03 de agosto de 2009

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VAGUINALDO MARINHEIRO

Pinóquio e os cigarros

SÃO PAULO - No desenho animado "Pinóquio", lançado pelo Disney em 1940, Gepeto dá os últimos retoques no boneco de madeira e vai dormir. Antes de fechar os olhos, fuma um cachimbo e o pendura na cabeceira da cama. Em "101 Dálmatas", da mesma Disney, tanto a vilã Cruela quanto o herói Roger, dono do cachorro Pongo, fumam o tempo todo. Ela, cigarros. Ele, cachimbo.
Havia alguma razão artística para as baforadas ou Walt Disney ganhava dinheiro da indústria do tabaco para transformar os pequenos em futuros fumantes? Qualquer que seja a resposta, a verdade é que cigarros e afins desapareceram dos desenhos infantis, acompanhando o processo de satanização do vício.
Agora, a lei estadual que proibirá fumar em lugares públicos fechados a partir de sexta veta também o cigarro em peças de teatro.
A medida provocou uma grita. Antonio Fagundes e Mika Lins disseram à Ilustrada que não cortarão os cigarros de suas montagens e desafiaram o Estado a multá-los.
Argumentam que há cerceamento à liberdade artística e que cigarros, às vezes, têm função na trama.
É bem provável que os atores ganhem essa batalha. Proibir o cigarro no palco é um dos aspectos estúpidos da nova legislação que devem ser alterados. É besteira achar que um cigarro fumado em cena afete a saúde dos espectadores.
Já a guerra dos fumantes em geral contra a lei parece perdida. É no mínimo civilizado aceitar que os tabagistas, que por muito tempo desfrutaram da liberdade de fumar onde quisessem, respeitem agora o direito dos que querem um ar um pouco menos sujo.
Muitos alegam que o Estado interfere demais na vida das pessoas e que não seria necessária mais uma lei para determinar a relação entre elas. Mas, assim como Gepeto pode, para o bem das crianças, aparecer tomando leitinho antes de dormir, os que ainda quiserem fumar podem, para o bem dos demais, ir até a calçada para fazê-lo.

vmarinheiro@uol.com.br


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