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ELIANE CANTANHÊDE
FHC, Serra desde criancinha
JOHANNESBURGO - Quando comemorou a subida do tucano José Serra
no Datafolha com seu assessor especial Fábio Feldmann (PSDB), FHC
usou o plural: "Nós demos uma boa
recuperada!".
O "nós", nesse caso, não tem nada
de casual, porque, na verdade, as pesquisas estão salvando dois coelhos,
ou dois tucanos, de uma cajadada só.
Salvam as chances, as bases e as cúpulas da campanha de Serra, que
voltou a ser competitivo, e, mantida a
tendência, pode se tornar forte inclusive no segundo turno.
E salvam FHC duplamente. Primeiro, de ter que conviver só com candidatos de oposição e a perspectiva de
ser substituído por adversários sempre capazes de causar surpresas. Segundo, da suspeita de ter jogado a
toalha antes do tempo e de, intimamente, torcer por Lula. Não só no segundo, mas já no primeiro turno.
A reviravolta das pesquisas é também a reviravolta dos tucanos, inclusive do tucano FHC. Todos parecem
Serra desde criancinha, tanto quanto
o PMDB, os diplomatas, os assessores, a cúpula e a periferia do poder.
E está cada dia mais evidente que o
destino de Serra está atrelado a FHC,
e o de FHC atrelado a Serra. Queiram
ou não os dois.
É por isso que o falante FHC tentou
bem umas 24 horas ficar de bico calado sobre política interna em Johannesburgo. Qualquer pio, neste momento, pode ser um desastre para
Serra. Evidentemente, não resistiu.
Também por isso o neo-Serra, leve e
bonzinho, tem que calibrar muito
bem o tiroteio com Ciro. Um tiroteio
que pode ser mortal para qualquer
um deles que for ao segundo turno. E
sobra para FHC.
O conselho de FHC para Serra é
não se expor a um desgaste maior do
que o necessário. Ou seja: precisa enfrentar Ciro o suficiente para ganhar
o primeiro turno, mas não a ponto de
chegar em frangalhos ao segundo.
FHC está pensando no seu candidato e amigo, claro. Mas também está pensando na própria pele. Agora,
só falta combinarem com o adversário. Até aqui, Serra atacou. Agora, segure-se porque Ciro vem aí.
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