São Paulo, terça-feira, 03 de setembro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Os quatro atacam novamente

RIO DE JANEIRO - Crônica da semana passada, intitulada "Cavaleiros do Apocalipse", provocou exatas quatro mensagens de leitores que protestaram por ter o cronista, metido no mesmo saco, os quatro candidatos presidenciais.
Não falei mal deles, tampouco falei bem. A insistência com que ocuparam todos os espaços da mídia me fizeram lembrar os quatro Cavaleiros do Apocalipse, aqueles que, segundo o vidente de Patmos e o filme homônimo do Vincente Minelli, varreriam a Terra com a peste, a fome, a guerra e a morte.
Os quatro e-mails vieram da mesma cidade: São Paulo. O primeiro reclamava de eu ter incluído Lula na cavalgada apocalíptica. Eu teria razão quanto a Ciro, Serra e Garotinho, mas Lula não, não podia ser comparado com os outros.
Os e-mails seguintes tinham mais ou menos o mesmo teor, variando apenas o nome daquele que ""não podia ser comparado com os outros".
Acontece comigo o mesmo que aconteceu com Luís Carlos Prestes quando saiu da prisão e teve de se decidir entre o brigadeiro Eduardo Gomes e o general Eurico Dutra na eleição de 1946. Com seu prestígio de herói dos 18 do Forte, o brigadeiro conseguira abalar a ditadura de Vargas. O general fora o condestável do regime totalitário, mantivera unidas as Forças Armadas para dar apoio ao ditador na paz e na guerra.
Prestes preferiu lançar um outro candidato, sem nenhuma chance, um tal de Fiúza, que depois ganharia o apelido de "rato Fiuza". E explicou: "Não vejo nenhuma diferença entre o general e o brigadeiro. Do meu ponto de vista, são a mesma coisa".
Fiquei pasmo. As diferenças entre os dois eram tão grandes que o povo chegava a dizer que o brigadeiro era bonito e o Dutra era o homem mais feio da paisagem nacional. Isso sem falar no resto.
O tempo passou e dobrou os dois cavaleiros para quatro.


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