São Paulo, sexta, 3 de outubro de 1997.



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AMAZÔNIA EM CHAMAS

A região amazônica, em termos de desenvolvimento econômico, ainda está muito aquém do potencial. A onda recente de queimadas, entretanto, mais uma vez traz à tona os riscos da ocupação destrutiva do território, que há anos vem sendo denunciada pelos ambientalistas.
É bom evitar a ingenuidade romântica quando se trata das relações entre desenvolvimento econômico e preservação do meio ambiente. Afinal, a preservação total da natureza significaria em última análise renunciar à ocupação territorial.
Mas, quando a extensão das queimadas chega a prejudicar a operação de aeroportos ou provoca um aumento significativo dos casos de distúrbios respiratórios nos hospitais de Manaus, parece evidente que estão ocorrendo exageros inaceitáveis.
A lista de problemas é longa e intrincada e nelas está incluída a própria racionalidade da ocupação. De resto, por trás da extração ilegal de madeira em reservas indígenas ou do desmatamento irregular estão as ocupações de terras por grileiros ou a falta de apoio para atividades tradicionais, como a dos seringueiros, para ficar em alguns exemplos.
Como se já não bastasse, as dimensões do território são continentais: só o mapa do Pará engoliria 13 mapas de Portugal ou 30 Holandas. Para fiscalizar toda essa extensão, o Ibama conta com minguados 64 fiscais.
A gravidade é tal que o presidente da República se diz impotente. Em março, quando ocorreu a conferência Rio+5, FHC admitiu que "nessas regiões, quase não há Estado". Os satélites mostram as queimadas e derrubadas, mas o presidente deveria assumir um compromisso mais firme com a defesa da Amazônia.
Entretanto, a agenda ambiental não se limita a verbas e fiscais. Está em questão hoje a própria fusão das questões de irrigação e meio ambiente num mesmo ministério.
A criação de pastas no governo federal nunca foi garantia de prioridade ou de visão estratégica. Mas pode-se dizer que o governo faz menos que o mínimo para evitar a queima das reservas ambientais brasileiras.





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