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HEGEMONIA AUTORITÁRIA
O presidente Fernando Henrique
Cardoso pôs o dedo na ferida da
grande política internacional ao dizer anteontem, em Santiago do Chile, que a liderança dos Estados Unidos não deve ser hegemônica, mas
"algo mais compartilhado".
Pena que, por ser presidente de um
país em desenvolvimento, suas palavras críticas tendam a cair no vazio.
Na mesma direção, mas de forma
muito mais concreta, até pelo peso
de seu país, está indo o primeiro-ministro francês, Lionel Jospin.
Jospin lançou um desafio concreto
à ilimitada hegemonia norte-americana, ao respaldar o contrato que
uma empresa francesa de petróleo
assinou com o Irã, um dos países que
o governo dos Estados Unidos pretendem manter na posição de pária
da comunidade internacional.
Não se trata, aqui, de julgar o regime iraniano, mas de questionar o papel de polícia moral, política e comercial do mundo que os Estados
Unidos passaram a arrogar-se, a partir do fato inquestionável de que são
a única superpotência que restou no
planeta após o colapso soviético.
Com base nessa hegemonia, os
EUA acham-se no direito de banir o
comércio de seus parceiros com países que consideram inidôneos, casos, por exemplo, do Irã, da Líbia e
de Cuba, entre outros.
Por odiosas que sejam as ditaduras
vigentes em tais países, o comportamento norte-americano é no mínimo
farisaico. Afinal, o regime iraniano
do xá Reza Pahlevi não era diferente,
em matéria de liberdades, de seus sucessores. Não obstante, os EUA eram
os principais parceiros do xá.
Washington chegou até a financiar
a derrubada de governos constitucionais, como o de Salvador Allende, no
Chile, para ficar no exemplo em que
existe a mais abundante comprovação dos mecanismos de desestabilização empregados. Foram, no geral
substituídos por ditaduras, com amplo respaldo dos Estados Unidos.
Esse histórico mina a autoridade
moral de Washington para determinar quem pode negociar com quem e
dá a seu exercício de hegemonia um
inequívoco viés autoritário.
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