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Gestão em choque
A IMPUNIDADE e os cofres
cheios. Por conta de uma
curiosa associação entre
esses dois fatores, o governismo
abandonou qualquer respeito
pelo bom senso, nem que seja
apenas no plano do discurso. O
vale-tudo na troca de apoio parlamentar por cargos e verbas
campeia sem disfarce, em clima
de pregão de feira livre.
E chegou ao Planalto a soberba
dos que, embora eleitos, fazem
troça com a obrigação de prestar
contas à sociedade. Choque de
gestão é contratar servidor, disse
o presidente da República. Acossado por uma base parlamentar
cada vez mais voraz -outrora
ilustrada pelo bordão franciscano "É dando que se recebe"-,
Luiz Inácio Lula da Silva não
pensou duas vezes: rifou logo a
responsabilidade fiscal.
É preciso "coragem de ser ousado", prosseguiu o presidente,
para contratar e pagar mais ao
funcionalismo. Afinal, a população também merece ter acesso a
"serviços de excelência".
Serviços de excelência -é disso mesmo que se trata. Na semana passada, uma revolta de 13 senadores "franciscanos" derrubou a medida provisória que
criava mais 626 cargos sem concurso para excelências. Frustrou-se o choque de gestão, ou
pelo menos a gestão de choque.
Coragem de ser ousado faltou
ao presidente Lula. Para ser coerente com o que disse, deveria
ter retirado a proposta que seu
governo enviou ao Congresso
com o fito de limitar a contratação de servidores. Alardeado no
PAC, o projeto já foi devidamente esquecido pelo Executivo.
O governo Lula se esbalda numa miragem de fartura. O momento favorável da economia,
associado a uma carga tributária
asfixiante, produz recordes sucessivos de arrecadação. Coragem e ousadia seriam necessárias agora, mas para colocar um
freio no gasto público. Dobrar a
aposta no agigantamento do empreguismo estatal é uma opção
tão fácil quanto irresponsável.
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