São Paulo, quarta-feira, 03 de outubro de 2007

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Gestão em choque

A IMPUNIDADE e os cofres cheios. Por conta de uma curiosa associação entre esses dois fatores, o governismo abandonou qualquer respeito pelo bom senso, nem que seja apenas no plano do discurso. O vale-tudo na troca de apoio parlamentar por cargos e verbas campeia sem disfarce, em clima de pregão de feira livre.
E chegou ao Planalto a soberba dos que, embora eleitos, fazem troça com a obrigação de prestar contas à sociedade. Choque de gestão é contratar servidor, disse o presidente da República. Acossado por uma base parlamentar cada vez mais voraz -outrora ilustrada pelo bordão franciscano "É dando que se recebe"-, Luiz Inácio Lula da Silva não pensou duas vezes: rifou logo a responsabilidade fiscal.
É preciso "coragem de ser ousado", prosseguiu o presidente, para contratar e pagar mais ao funcionalismo. Afinal, a população também merece ter acesso a "serviços de excelência".
Serviços de excelência -é disso mesmo que se trata. Na semana passada, uma revolta de 13 senadores "franciscanos" derrubou a medida provisória que criava mais 626 cargos sem concurso para excelências. Frustrou-se o choque de gestão, ou pelo menos a gestão de choque.
Coragem de ser ousado faltou ao presidente Lula. Para ser coerente com o que disse, deveria ter retirado a proposta que seu governo enviou ao Congresso com o fito de limitar a contratação de servidores. Alardeado no PAC, o projeto já foi devidamente esquecido pelo Executivo.
O governo Lula se esbalda numa miragem de fartura. O momento favorável da economia, associado a uma carga tributária asfixiante, produz recordes sucessivos de arrecadação. Coragem e ousadia seriam necessárias agora, mas para colocar um freio no gasto público. Dobrar a aposta no agigantamento do empreguismo estatal é uma opção tão fácil quanto irresponsável.


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