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CLÓVIS ROSSI
O Brasil "arrumado"
SÃO PAULO - Diz, pela centésima
milionésima vez, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva: "O Brasil nunca esteve tão arrumado como está
agora".
Beleza pura, não é? Todo mundo
deveria se curvar ao presidente que
inventou um novo e maravilhoso
país, certo?
Pena que uma pesquisadora, dessas chatas, incapazes de se conformar com ufanismos tolos, escreva
na mesma Folha:
"A vida útil de um cortador de cana é inferior a 15 anos, nível abaixo
dos negros em alguns períodos da
escravidão" (imperdível texto de
Maria Aparecida de Moraes e Silva,
doutora em sociologia pela Universidade de Paris 1 e professora livre-docente da Unesp, Universidade
Estadual Paulista).
Pois é, guardadas as proporções,
o Brasil parece estar permanentemente atado a uma frase do general
Médici, o presidente igualmente
ufanista que dizia "o país vai bem, o
povo vai mal", enquanto a tortura
comia solta.
Há, no entanto, duas diferenças
em relação ao sinistro momento
dos anos 70:
1 - A censura à imprensa impedia
que se publicassem artigos como os
de Maria Aparecida. Nesse ponto,
portanto, o Brasil de fato evoluiu.
2 - Lula e seu PT estavam do outro lado da cerca ou, mais exatamente, do outro lado do canavial,
denunciando as condições de vida
dos cortadores de cana.
Hoje, Lula classifica de "heróis"
os usineiros da cana.
A pesquisadora fala dos canaviais
do Estado de São Paulo, o mais rico
do país. Não é difícil imaginar como
é a vida em outros Estados.
Por falar nisso, o site "Congresso
em Foco" denuncia, em sua edição
de ontem: "Empresas autuadas por
explorar trabalhadores em condição análoga à de escravo doaram R$
897 mil para 25 candidatos em
2006" (vários do PT, aliás).
Bem "arrumados", portanto, estão os políticos. Já o país real...
crossi@uol.com.br
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