São Paulo, quarta-feira, 03 de outubro de 2007

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MELCHIADES FILHO

"We Are the World"

BRASÍLIA - Em tese, a maioria parlamentar ajuda o governo a rebater ataques e a garantir a aprovação de matérias de seu interesse.
Não para Lula. Desde a ressaca do desmonte do mensalão, o Planalto nem se importa em desenhar projetos que requeiram o Legislativo.
A coordenação política chegou à conclusão de que dá para tocar a vida à base de medidas provisórias. (Tanto que fazer contrabandos no texto das MPs foi o jeito que o Congresso encontrou para legislar.)
Essa opção pelo desdém, no entanto, tem efeitos colaterais sobre a base governista -de tamanho e heterogeneidade sem precedentes. Ela explica por que muitos aliados não dão a cara a bater. Não se vê Roseana Sarney, líder do bloco no Congresso, na tribuna.
Explica por que os engajados estão tão desnorteados, em busca de um discurso para chamar de seu. Os petistas? Fazem figuração, como os colegas do PR ao PRB, no coro do "We Are the World" pelo "social".
E explica por que alguns se sentem à vontade para se levantar. Como sabem que a CPMF é vital para o segundo mandato, e que não há agenda legislativa além dela, sobem o preço e exigem o pagamento antecipado, o chinelinho que seja.
O resultado é bizarro: já não se percebe quem constrange mais o Planalto, se a base ou se a oposição.
No Senado, por exemplo, ficou difícil decifrar quem (não) trabalha pela cabeça de Renan Calheiros.
A grande coalizão lulista cumpriu até aqui o objetivo de garantir a governabilidade -leia-se, manter recolhidos todos os atores de 2010. Mas ajudou a rebaixar o Congresso a essa geléia geral. Esfumaçou as fronteiras entre aliados e adversários. Deu a todos a cara do fisiologismo, do reboque, da irrelevância.
Por isso o julgamento de hoje no Supremo tem um quê de nonsense.
Faz sentido debater a fidelidade partidária se cada aprovação no plenário, na definição do próprio líder no Senado, Romero Jucá, exige uma "construção específica"?


mfilho@folhasp.com.br

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