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MELCHIADES FILHO
"We Are the World"
BRASÍLIA - Em tese, a maioria
parlamentar ajuda o governo a rebater ataques e a garantir a aprovação de matérias de seu interesse.
Não para Lula. Desde a ressaca do
desmonte do mensalão, o Planalto
nem se importa em desenhar projetos que requeiram o Legislativo.
A coordenação política chegou à
conclusão de que dá para tocar a vida à base de medidas provisórias.
(Tanto que fazer contrabandos
no texto das MPs foi o jeito que o
Congresso encontrou para legislar.)
Essa opção pelo desdém, no entanto, tem efeitos colaterais sobre a
base governista -de tamanho e heterogeneidade sem precedentes.
Ela explica por que muitos aliados não dão a cara a bater. Não se vê
Roseana Sarney, líder do bloco no
Congresso, na tribuna.
Explica por que os engajados estão tão desnorteados, em busca de
um discurso para chamar de seu. Os
petistas? Fazem figuração, como os
colegas do PR ao PRB, no coro do
"We Are the World" pelo "social".
E explica por que alguns se sentem à vontade para se levantar. Como sabem que a CPMF é vital para
o segundo mandato, e que não há
agenda legislativa além dela, sobem
o preço e exigem o pagamento antecipado, o chinelinho que seja.
O resultado é bizarro: já não se
percebe quem constrange mais o
Planalto, se a base ou se a oposição.
No Senado, por exemplo, ficou
difícil decifrar quem (não) trabalha
pela cabeça de Renan Calheiros.
A grande coalizão lulista cumpriu
até aqui o objetivo de garantir a governabilidade -leia-se, manter recolhidos todos os atores de 2010.
Mas ajudou a rebaixar o Congresso a essa geléia geral. Esfumaçou as
fronteiras entre aliados e adversários. Deu a todos a cara do fisiologismo, do reboque, da irrelevância.
Por isso o julgamento de hoje no
Supremo tem um quê de nonsense.
Faz sentido debater a fidelidade
partidária se cada aprovação no plenário, na definição do próprio líder
no Senado, Romero Jucá, exige
uma "construção específica"?
mfilho@folhasp.com.br
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