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CLÓVIS ROSSI
É a política, estúpidos
SÃO PAULO - Reencontro George
Soros na capa da Folha. Nosso encontro anterior no mesmo local fora há seis anos. Participávamos de
um seminário sobre terrorismo no
Council on Foreign Relations de
Nova York. No jantar, cada um de
prato na mão, perguntei sobre a
eleição brasileira (a de 2002).
Respondeu: "É Serra ou o caos".
Deu capa na Folha, claro. Por que o
caos? Porque os mercados atacariam de todos os lados para tentar
evitar a vitória de Luiz Inácio Lula
da Silva, ainda visto como perigoso
esquerdista (ah, como os mercados
se equivocam).
"Não é antidemocrático?", perguntei ingenuamente. Soros: "É,
mas como na Roma antiga só votavam os patrícios, no mundo moderno votam os americanos" (referindo-se aos mercados, não aos americanos em geral, que não prestam
atenção a eleições periféricas).
O eleitorado brasileiro não deu
bola para a chantagem dos "patrícios" modernos, embora Lula tenha se rendido gostosamente a eles
depois de vencer.
Seis anos depois, lá está o velho e
bom George repetindo a chantagem na capa da Folha ao dizer que
o pacote de ajuda aos mercados é
"desesperadamente necessário".
Na prática equivale a dizer: o pacote ou o caos, como em 2002.
Pode até ser que ele tenha razão,
mas, frase por frase, prefiro inverter a do marqueteiro James Carville a Bill Clinton, na campanha de
1992: Carville dizia "é a economia,
estúpido"; agora é a hora de dizer "é
a política, estúpidos".
Posto de outra forma: é preciso
que os governos governem os mercados também. Governança global,
diga-se, porque soluções isoladas
não parecem factíveis. Não se trata
de subordinar os mercados ao Estado (esse muro já caiu e não volta),
mas de regras que previnam chantagens dos "patrícios", que arruinaram o primeiro ano do governo Lula e, agora, semeiam o pânico de
Hong Kong a Nova York.
crossi@uol.com.br
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