|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO RODRIGUES
Um novo ufanismo
BRASÍLIA - O fiasco na apuração da eleição presidencial norte-americana
de quatro anos atrás, em 2000, criou
um novo personagem no Brasil. Poderia ser usado por Lula nos seus comerciais nacionalistas. Trata-se do
brasileiro democrata ufanista.
Agora virou moda falar que a eleição brasileira é muito mais organizada e democrática do que a do grande
irmão do norte. "Aqui, as urnas são
eletrônicas. Lá, é uma bagunça".
Mais ou menos. O pensamento brasileiro não consegue absorver o fato
de que cada Estado norte-americano
tem autonomia para decidir como
são suas eleições. O centralismo lusitano-ibérico-católico requer um senhor de engenho para determinar como todos devem se comportar.
Por que não fazem uma lei nacional para ter só um modelo de título
de eleitor?, pergunta o brasileiro professor de democracia. Simples: há 200
anos, os Estados norte-americanos
são autônomos e criaram a nação
mais rica do planeta Terra.
No início da noite de ontem, o brasileiro democrata ufanista começou a
ficar com a pulga atrás da orelha. A
democracia dos EUA estava para dar
uma demonstração rara de solidez.
Números iniciais demonstravam que
poderia haver um comparecimento
acima da média dos eleitores.
Escaldada com o empate de 2000, a
sociedade norte-americana mobilizou-se. Quis resolver o problema no
voto. É possível que muitas seções
eleitorais demorem para contabilizar
votos de máquinas mecânicas antigas. Tudo ficará relegado a segundo
plano se o comparecimento maciço se
confirmar. Diminui drasticamente a
possibilidade de poucos votos definirem a eleição.
Aqui no Brasil, vá lá, os votos são
contados com rapidez. Mas é mais difícil aferir um fenômeno social como
o que pode ter ocorrido ontem nos
EUA. O voto do brasileiro é obrigatório. Em regiões pobres, nunca se sabe
se hordas de miseráveis escolhem um
candidato por vontade própria ou
em troca de um sanduíche.
Texto Anterior: Miami - Clóvis Rossi: Diferenças Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O coreto eleitoral Índice
|