São Paulo, quarta-feira, 03 de novembro de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

Um novo ufanismo

BRASÍLIA - O fiasco na apuração da eleição presidencial norte-americana de quatro anos atrás, em 2000, criou um novo personagem no Brasil. Poderia ser usado por Lula nos seus comerciais nacionalistas. Trata-se do brasileiro democrata ufanista.
Agora virou moda falar que a eleição brasileira é muito mais organizada e democrática do que a do grande irmão do norte. "Aqui, as urnas são eletrônicas. Lá, é uma bagunça".
Mais ou menos. O pensamento brasileiro não consegue absorver o fato de que cada Estado norte-americano tem autonomia para decidir como são suas eleições. O centralismo lusitano-ibérico-católico requer um senhor de engenho para determinar como todos devem se comportar.
Por que não fazem uma lei nacional para ter só um modelo de título de eleitor?, pergunta o brasileiro professor de democracia. Simples: há 200 anos, os Estados norte-americanos são autônomos e criaram a nação mais rica do planeta Terra.
No início da noite de ontem, o brasileiro democrata ufanista começou a ficar com a pulga atrás da orelha. A democracia dos EUA estava para dar uma demonstração rara de solidez. Números iniciais demonstravam que poderia haver um comparecimento acima da média dos eleitores.
Escaldada com o empate de 2000, a sociedade norte-americana mobilizou-se. Quis resolver o problema no voto. É possível que muitas seções eleitorais demorem para contabilizar votos de máquinas mecânicas antigas. Tudo ficará relegado a segundo plano se o comparecimento maciço se confirmar. Diminui drasticamente a possibilidade de poucos votos definirem a eleição.
Aqui no Brasil, vá lá, os votos são contados com rapidez. Mas é mais difícil aferir um fenômeno social como o que pode ter ocorrido ontem nos EUA. O voto do brasileiro é obrigatório. Em regiões pobres, nunca se sabe se hordas de miseráveis escolhem um candidato por vontade própria ou em troca de um sanduíche.


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