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CARLOS HEITOR CONY
O coreto eleitoral
RIO DE JANEIRO - Com a habitual ignorância dos fatos políticos, ouso
comentar as eleições para prefeito do
último domingo. Tudo bem. Acho
que não houve surpresas. Em linhas
gerais, as pesquisas do eleitorado foram confirmadas, com três pontos
para mais ou para menos, conforme
é de praxe.
Sem contestar pesquisas e resultados, dentro do tradicional espírito de
porco que me acompanha desde
criancinha, discordo da quase totalidade das análises feitas pelos entendidos, que creditam vitórias e derrotas aos partidos.
Como não temos partidos para valer, fico na minha. Quem ganhou ou
perdeu o fez por conta própria, por
mérito ou demérito próprio. No Brasil, vota-se na cara e na coragem, ou
pela biografia dos candidatos, nem
sempre por suas idéias e muito menos
pelo seu partido. Com as exceções
também de praxe.
No caso de São Paulo, por exemplo,
não foi Serra quem ganhou e muito
menos o PSDB. Foi Marta que perdeu. E, como bem disse Tereza Cruvinel, perdeu por ter continuado sendo
a Marta, não a boa prefeita que foi,
mas a Marta que não deixou de ser a
Marta desvinculada de seu cargo público.
Preferiu ser ela mesma, assumindo
conscientemente sua vida pessoal,
quando poderia, dentro da hipocrisia
social e política a que estamos habituados, bancar a vestal que nunca foi
nem pretende ser.
Mérito também para o Zé Serra, independente de seu partido. Sua obstinação pela política é comovente, vem
desde os tempos de estudante. E, desprezando os erros pontuais a que todos estamos sujeitos, mostra-se coerente nas idéias e honesto em sua caminhada.
É evidente que na próxima sucessão presidencial teremos o grande
clássico PT x PSDB com seus respectivos aliados. Mas um fato novo, ou
uma cara nova, e sobretudo fatos novos bagunçarão o coreto eleitoral e é
possível que venham novidades. Que,
aliás, estão tardando.
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