São Paulo, quarta-feira, 03 de novembro de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Inovar para desenvolver

RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA

Acabo de retornar de Lisboa, onde participei de mais uma rodada do Fórum Euro-Latino-Americano, idealizado e concretizado há 17 anos por portugueses e brasileiros. A convergência entre blocos econômicos precisa de reuniões como essa, para o aprofundamento das idéias e a convivência entre pontos de vista distintos e variadas experiências.
Durante três dias, acadêmicos, empresários, diplomatas, políticos e estudantes lusitanos e brasileiros debateram, no magnífico Centro de Congressos de Lisboa, a cooperação entre União Européia e Mercosul com foco em investimentos, inovação e mutações sociais.
Como é sabido, o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia voltou ao banho-maria quando o negociador europeu, Pascal Lamy, deixou o cargo. Peter Mandelson, britânico, assumiu e avisou: "A substância tem precedência sobre o calendário". O Mercosul rejeitou a proposta européia devido às baixas cotas de importação para produtos relevantes, como a carne.
A União Européia vive momentos desafiadores, com o ingresso de mais dez países, que se juntaram aos outros 15, à espera do 26º, a Turquia. São 400 milhões de pessoas que habitam a área compreendida pela União Européia. A UE nasceu do desejo de assegurar a paz na Europa e é essa que continua a ser a sua essência.
O Mercosul, apesar dos problemas que vem enfrentando, principalmente em conseqüência de assimetrias de tamanho, de competitividade, de situações conjunturais, vai resolvendo seus problemas e tende a se tornar um bloco respeitado neste mundo globalizado. O Brasil, por ser o maior país em dimensão continental e econômica e por exercer neste semestre a sua presidência, tem responsabilidade acrescida na condução das questões.


O avanço das negociações entre UE e Mercosul encontra sérios obstáculos, notadamente na agenda agrícola


A relação entre UE e Mercosul baseia-se numa visão convergente do mundo e dos valores que sustentam os respectivos projetos de integração. É por isso que o Mercosul tem sido denominado de "sister project" -embora seja política, econômica e fisicamente bem distinto do irmão mais velho (União Européia), enfrenta desafios comuns, para os quais entende também que uma resposta comum reunirá o interesse de todos.
O avanço das negociações entre UE e Mercosul encontra sérios obstáculos, notadamente na agenda agrícola. Outra barreira ao progresso das negociações é a falta de integração política e econômica do Mercosul.
Na reunião de Lisboa, o foco dos trabalhos foi o relançamento da cooperação União Européia-Mercosul, com ênfase nos investimentos, inovação e mutações sociais.
O Fórum Euro-Latino-Americano pode contribuir para o avanço do acordo-quadro, pois é o único foro que reúne diplomatas, políticos, empresários, trabalhadores e acadêmicos em igualdade de condições.
Inovar para desenvolver foi o tema do Fórum de Lisboa e é um objetivo que deve ser perseguido pelos dois grandes blocos, União Européia e Mercosul.

Ruy Martins Altenfelder Silva, 65, advogado, é presidente do Instituto Roberto Simonsen. Foi secretário da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado de São Paulo (2001-2002).


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