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FERNANDO DE BARROS E SILVA
As regras e o jogo
SÃO PAULO - Dois de cada três
brasileiros são contra a idéia de que
Lula deva ter o direito de disputar
uma nova eleição consecutiva. O resultado do Datafolha é expressivo o
bastante para matar pela raiz a tentação do terceiro mandato. Acabou.
Lula segue muito bem avaliado,
mas a aprovação não se traduz em
vontade de que ele se perpetue no
poder -pelo contrário. O povo separou uma coisa da outra, além de
dar seu aval à tese da reeleição, uma
só. Foi um recado inequívoco pela
manutenção das regras do jogo democrático. É, sim, o caso de falar em
sabedoria das multidões.
É verdade que Lula, ele próprio,
nunca embarcou na "terceira onda". O Datafolha tem, ainda assim, o
efeito de esvaziar os delírios de onipotência de quem é capaz de dizer,
sem pudor, que "o tempo se encarregou de mostrar que o povo brasileiro estava certo quando votou em
mim". "Menas", por favor.
A soberba é, de resto, uma herança maldita em alta: eu falo várias
línguas, diz um; eu governo melhor,
retruca o outro -afora sua ridícula
infantilidade, a polêmica é sintomática do que se tornou a política
no país: uma disputa cínica entre
iguais buscando afirmar diferenças.
Sem Lula 3 no horizonte, a oposição especializada em aterrorizar
criancinhas e martelar a ameaça do
chavismo no Brasil vai ter de mudar
seu disquinho. Esse conto de fadas
não cola mais.
E os petistas que andavam assanhados com a possibilidade de estender, por vias tortas, suas sinecuras, terão agora de encarar de frente
o óbvio: o partido não tem nomes
viáveis para 2010.
Faltam quase três anos, mas a sucessão de Lula começa a se desenhar. Serra aparece como grande
favorito. O destino de Aécio é o Senado, a menos que mude de partido.
No PSDB, já perdeu a parada.
Ciro é o grande adversário de Serra. É uma evidência, mas diante da
qual o PT dificilmente se renderá.
Resta saber como Lula conduzirá
essa disputa estando, pela primeira
vez desde 1989, fora dela.
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