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CARLOS HEITOR CONY
Ora pipocas!
RIO DE JANEIRO - Como todos
sabemos, uma bonita árvore de Natal é erguida todos os anos, aqui na
Lagoa, bem em frente à minha varanda. Vem gente de longe ver a
maravilha, que é monótona como
todas as maravilhas imóveis, a
exemplo do nosso Cristo Redentor,
que ganhou recentemente status
internacional.
Não dou muita bola para ela, mas
vejo que os outros dão. Outro dia,
indo jantar no Leblon, enfrentei o
trânsito em volta dela e contei 52
barraquinhas de pipoca, coladas
umas nas outras, aumentando a
confusão local. Apesar da multidão
ali concentrada, acho que a concorrência prejudicou o negócio. Todas
as barraquinhas eram iguais, iluminadas da mesma forma e vendendo
o mesmo produto. Até agora não
surgiu nenhuma criatividade nesse
ramo comercial, além da pipoca salgada e da pipoca doce.
Houve tempo em que, sem espaço no mercado, pensei em comprar
uma carrocinha e tentar o negócio,
ainda não havia a árvore de Natal,
mas havia a porta dos cinemas e a
entrada dos circos. Em compensação, a concorrência era menor.
Mesmo assim, preferi cantar em
outra freguesia. Houve tempo, também, em que pensei estar ficando
cego, comprei uma gaitinha de boca
e aprendi a tocar "Noite Feliz" para
a época natalina e "Oh Suzana" para
o resto do ano. Um pires ao lado receberia os trocados da caridade
alheia.
Apesar dos trancos recebidos vida afora, não cheguei a estado tão
desesperador. Mas conservei o consolo das pipocas, se as coisas se
complicassem para o meu lado, haveria ao menos uma forma decente
para ganhar a vida, ou pelo menos
para não a perder de todo. E eis que
este 2009, agora começando, me
obriga a pensar em outra alternativa. Com a crise mundial na economia, as barraquinhas se multiplicarão e talvez haja pipocas para todos.
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