São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2009

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CARLOS HEITOR CONY

Ora pipocas!

RIO DE JANEIRO - Como todos sabemos, uma bonita árvore de Natal é erguida todos os anos, aqui na Lagoa, bem em frente à minha varanda. Vem gente de longe ver a maravilha, que é monótona como todas as maravilhas imóveis, a exemplo do nosso Cristo Redentor, que ganhou recentemente status internacional.
Não dou muita bola para ela, mas vejo que os outros dão. Outro dia, indo jantar no Leblon, enfrentei o trânsito em volta dela e contei 52 barraquinhas de pipoca, coladas umas nas outras, aumentando a confusão local. Apesar da multidão ali concentrada, acho que a concorrência prejudicou o negócio. Todas as barraquinhas eram iguais, iluminadas da mesma forma e vendendo o mesmo produto. Até agora não surgiu nenhuma criatividade nesse ramo comercial, além da pipoca salgada e da pipoca doce.
Houve tempo em que, sem espaço no mercado, pensei em comprar uma carrocinha e tentar o negócio, ainda não havia a árvore de Natal, mas havia a porta dos cinemas e a entrada dos circos. Em compensação, a concorrência era menor. Mesmo assim, preferi cantar em outra freguesia. Houve tempo, também, em que pensei estar ficando cego, comprei uma gaitinha de boca e aprendi a tocar "Noite Feliz" para a época natalina e "Oh Suzana" para o resto do ano. Um pires ao lado receberia os trocados da caridade alheia.
Apesar dos trancos recebidos vida afora, não cheguei a estado tão desesperador. Mas conservei o consolo das pipocas, se as coisas se complicassem para o meu lado, haveria ao menos uma forma decente para ganhar a vida, ou pelo menos para não a perder de todo. E eis que este 2009, agora começando, me obriga a pensar em outra alternativa. Com a crise mundial na economia, as barraquinhas se multiplicarão e talvez haja pipocas para todos.


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