|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
O Quixote é candidato
SÃO PAULO - O filósofo Roberto Mangabeira Unger é candidato a
candidato à Presidência da República pelo PDT, partido em que militou
até passar para o PPS ao lado do hoje
ministro Ciro Gomes.
Segundo a versão dada à Folha por
Márcia Cibilis Viana, ex-deputada
pedetista e filha de Cibilis Viana, um
histórico trabalhista, a candidatura
Mangabeira Unger seria patrocinada, na verdade, pelo próprio Leonel
Brizola, o caudilho e fundador do
PDT, se não tivesse morrido.
Márcia foi testemunha ocular de
conversa entre seu pai e Brizola, na
qual a candidatura do filósofo, vizinho deste espaço todas as terças-feiras, foi o assunto principal. A lógica é
a mesma de quase todos os escritos de
Mangabeira Unger nesta Folha: uma
alternativa ao que considera polarização entre iguais (PT e PSDB).
Não se trata de uma tarefa fácil.
Para começar, há outro pré-candidato pedetista, o senador Jefferson Péres, que, de resto, usou, para oferecer
sua candidatura, argumentos muito
similares aos de Mangabeira Unger.
Além disso, o filósofo fala português
com sotaque de "gringo" (criou-se
nos Estados Unidos).
Mais: suspeito que Mangabeira
Unger vá ser incapaz de promessas
populistas, apesar de o PDT ser um
viveiro do populismo.
Não obstante, seria de fato bom ter
uma pessoa com as características de
Mangabeira Unger no processo político. Trata-se de um quixote -e só
quixotes são capazes de enfrentar
moinhos de vento pensando que são
monstros.
No Brasil, há uma porção de moinhos de vento que ninguém ousa enfrentar exatamente porque parecem
monstros -e alguns de fato o são.
Fernando Henrique Cardoso, um sociólogo bom de análises, acomodou-se a eles; Luiz Inácio Lula da Silva,
sindicalista e político combativo, rendeu-se a eles.
Restou um deserto de idéias novas
ou diferentes. Podem até ser todas erradas, mas o eleitor deve ter o direito
de escolher entre propostas diferentes
em vez do "más de lo mismo" a que
parecemos condenados.
Texto Anterior: Editoriais: TERRA SEM LEI Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Bloco dos aflitos Índice
|