São Paulo, sexta-feira, 04 de fevereiro de 2005

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CLÓVIS ROSSI

O Quixote é candidato

SÃO PAULO - O filósofo Roberto Mangabeira Unger é candidato a candidato à Presidência da República pelo PDT, partido em que militou até passar para o PPS ao lado do hoje ministro Ciro Gomes.
Segundo a versão dada à Folha por Márcia Cibilis Viana, ex-deputada pedetista e filha de Cibilis Viana, um histórico trabalhista, a candidatura Mangabeira Unger seria patrocinada, na verdade, pelo próprio Leonel Brizola, o caudilho e fundador do PDT, se não tivesse morrido.
Márcia foi testemunha ocular de conversa entre seu pai e Brizola, na qual a candidatura do filósofo, vizinho deste espaço todas as terças-feiras, foi o assunto principal. A lógica é a mesma de quase todos os escritos de Mangabeira Unger nesta Folha: uma alternativa ao que considera polarização entre iguais (PT e PSDB).
Não se trata de uma tarefa fácil. Para começar, há outro pré-candidato pedetista, o senador Jefferson Péres, que, de resto, usou, para oferecer sua candidatura, argumentos muito similares aos de Mangabeira Unger. Além disso, o filósofo fala português com sotaque de "gringo" (criou-se nos Estados Unidos).
Mais: suspeito que Mangabeira Unger vá ser incapaz de promessas populistas, apesar de o PDT ser um viveiro do populismo.
Não obstante, seria de fato bom ter uma pessoa com as características de Mangabeira Unger no processo político. Trata-se de um quixote -e só quixotes são capazes de enfrentar moinhos de vento pensando que são monstros.
No Brasil, há uma porção de moinhos de vento que ninguém ousa enfrentar exatamente porque parecem monstros -e alguns de fato o são. Fernando Henrique Cardoso, um sociólogo bom de análises, acomodou-se a eles; Luiz Inácio Lula da Silva, sindicalista e político combativo, rendeu-se a eles.
Restou um deserto de idéias novas ou diferentes. Podem até ser todas erradas, mas o eleitor deve ter o direito de escolher entre propostas diferentes em vez do "más de lo mismo" a que parecemos condenados.


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