São Paulo, sexta-feira, 04 de fevereiro de 2005

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ELIANE CANTANHÊDE

Bloco dos aflitos

BRASÍLIA - São variadas e consistentes as motivações do PPS, do PDT, do PSB, do PC do B e do PV ao se unirem num bloco na Câmara. Só não se sabe até onde as velhas picuinhas de esquerda e o grau de comprometimento (ou de não-comprometimento) de cada um com o governo podem atrapalhar tudo.
De imediato, o que importa mesmo é disputar cargos na Câmara, no rastro da renovação da Mesa, agora em fevereiro. Sozinhos, esses partidos não têm direito a nada relevante. Juntos, como terceira bancada da Casa, podem ter a presidência de até três comissões. A união faz a força.
A médio prazo, há as complexas composições nos Estados para as eleições de 2006, que já assanham governo e Congresso e ainda vão dar muito o que falar -e o que escrever. O PDT e o PPS, por exemplo: um é mais forte no Sudeste e no Sul, e o outro, no Nordeste. Dá uma boa aliança. Falam em lançar candidato único à Presidência e até em fusão.
A longo prazo, e pelo menos no discurso, o que essa gente tenta é evitar que a polarização PT versus PSDB-PFL engula todo o resto. Ainda mais com a ameaça da cláusula de barreira (votação mínima obrigatória). Em outras palavras: trata-se de uma questão de sobrevivência.
Na política, o que parece tão fácil costuma ser dificílimo. Agora estão todos juntos para ganhar comissões. Depois entram em discussão projetos polêmicos, como a reforma sindical. E, mais dia, menos dia, surge novo confronto governo-Congresso. É quando as intenções evaporam.
O PPS e o PDT se dizem "independentes" e têm duros discursos contra o governo, às vezes até mais do que o PSDB e o PFL. Exemplo maior: política econômica. Já o PC do B, o PSB e o PV, na outra ponta, têm até ministros.
Numa relação Planalto-Congresso movida a medidas provisórias e vontades palacianas, é um bom exercício imaginar a solidez de um bloco tão nitidamente oposicionista de um lado e tão governista do outro. Mas, enfim, a alternativa é esta: fazer ou fazer. Porque -vale repetir- significa sobreviver. Ou não.


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