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ELIANE CANTANHÊDE
Bloco dos aflitos
BRASÍLIA - São variadas e consistentes as motivações do PPS, do PDT, do
PSB, do PC do B e do PV ao se unirem
num bloco na Câmara. Só não se sabe até onde as velhas picuinhas de esquerda e o grau de comprometimento (ou de não-comprometimento) de
cada um com o governo podem atrapalhar tudo.
De imediato, o que importa mesmo
é disputar cargos na Câmara, no rastro da renovação da Mesa, agora em
fevereiro. Sozinhos, esses partidos
não têm direito a nada relevante.
Juntos, como terceira bancada da
Casa, podem ter a presidência de até
três comissões. A união faz a força.
A médio prazo, há as complexas
composições nos Estados para as eleições de 2006, que já assanham governo e Congresso e ainda vão dar muito o que falar -e o que escrever. O
PDT e o PPS, por exemplo: um é mais
forte no Sudeste e no Sul, e o outro, no
Nordeste. Dá uma boa aliança. Falam em lançar candidato único à
Presidência e até em fusão.
A longo prazo, e pelo menos no discurso, o que essa gente tenta é evitar
que a polarização PT versus PSDB-PFL engula todo o resto. Ainda mais
com a ameaça da cláusula de barreira (votação mínima obrigatória). Em
outras palavras: trata-se de uma
questão de sobrevivência.
Na política, o que parece tão fácil
costuma ser dificílimo. Agora estão
todos juntos para ganhar comissões.
Depois entram em discussão projetos
polêmicos, como a reforma sindical.
E, mais dia, menos dia, surge novo
confronto governo-Congresso. É
quando as intenções evaporam.
O PPS e o PDT se dizem "independentes" e têm duros discursos contra
o governo, às vezes até mais do que o
PSDB e o PFL. Exemplo maior: política econômica. Já o PC do B, o PSB e o
PV, na outra ponta, têm até ministros.
Numa relação Planalto-Congresso
movida a medidas provisórias e vontades palacianas, é um bom exercício
imaginar a solidez de um bloco tão
nitidamente oposicionista de um lado e tão governista do outro. Mas, enfim, a alternativa é esta: fazer ou fazer. Porque -vale repetir- significa
sobreviver. Ou não.
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