|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
O apetite
SÃO PAULO - Percorrer o noticiário político é viajar pelo mundo da
mais completa indigência.
As sete páginas (fora as de anúncios) de ontem do caderno Brasil
desta Folha não continham uma só
idéia, um só projeto, uma só discussão sobre problemas brasileiros de
parte de deputados e/ou senadores.
Nada. Só apetites pessoais, busca
por posições, pelos cargos na máquina pública, por candidaturas
nos próximos pleitos.
Não que seja ilegítimo buscar
cargos e candidaturas. Seria até decente se a caça se desse em torno de
idéias, projetos, ideologias. Como
está, é só voracidade.
Mas também o que esperar dessa
gente quando o novo chefe deles, o
presidente da Câmara, Arlindo
Chinaglia (PT-SP), aparece com a
formidável revelação, inédita nos
anais da política, da sociologia, da
filosofia, das ciências humanas em
geral, contida na frase "corrupção
tem no mundo inteiro"?
Se eu fosse o presidente Lula, diria que "jamais, no planeta Terra ou
em outros planetas, alguém fizera
tamanha descoberta".
Chinaglia não ficou na escandalosa obviedade. Foi além: avisou
seus pares que podem continuar
praticando corrupção à vontade,
porque ele, a quem, como chefe, deveria caber controlá-la, não tem a
mais remota idéia de como fazê-lo.
"É muito difícil você controlar.
Não sei como fazer, gostaria de saber. Se vocês tiverem idéias, eu serei todo ouvidos", disse o notável filósofo à Folha.
Ele próprio reconhece que, na legislatura passada, "foram cometidos delitos graves". Se ele é contra
delitos e se candidatou à presidência, teria a obrigação elementar de
ter ao menos uma idéia, umazinha
que fosse, a respeito. Não tem.
O que é a confissão do que já se
sabia. Candidatou-se por puro apetite pessoal pelo poder. E elegeu-se
porque demonstra com isso estar
perfeitamente sintonizado com a
grande maioria de seus pares.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Brasil pentecostal Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: O rastro da vitória Índice
|