São Paulo, domingo, 04 de fevereiro de 2007

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CLÓVIS ROSSI

O apetite

SÃO PAULO - Percorrer o noticiário político é viajar pelo mundo da mais completa indigência. As sete páginas (fora as de anúncios) de ontem do caderno Brasil desta Folha não continham uma só idéia, um só projeto, uma só discussão sobre problemas brasileiros de parte de deputados e/ou senadores.
Nada. Só apetites pessoais, busca por posições, pelos cargos na máquina pública, por candidaturas nos próximos pleitos.
Não que seja ilegítimo buscar cargos e candidaturas. Seria até decente se a caça se desse em torno de idéias, projetos, ideologias. Como está, é só voracidade.
Mas também o que esperar dessa gente quando o novo chefe deles, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), aparece com a formidável revelação, inédita nos anais da política, da sociologia, da filosofia, das ciências humanas em geral, contida na frase "corrupção tem no mundo inteiro"?
Se eu fosse o presidente Lula, diria que "jamais, no planeta Terra ou em outros planetas, alguém fizera tamanha descoberta".
Chinaglia não ficou na escandalosa obviedade. Foi além: avisou seus pares que podem continuar praticando corrupção à vontade, porque ele, a quem, como chefe, deveria caber controlá-la, não tem a mais remota idéia de como fazê-lo. "É muito difícil você controlar. Não sei como fazer, gostaria de saber. Se vocês tiverem idéias, eu serei todo ouvidos", disse o notável filósofo à Folha.
Ele próprio reconhece que, na legislatura passada, "foram cometidos delitos graves". Se ele é contra delitos e se candidatou à presidência, teria a obrigação elementar de ter ao menos uma idéia, umazinha que fosse, a respeito. Não tem.
O que é a confissão do que já se sabia. Candidatou-se por puro apetite pessoal pelo poder. E elegeu-se porque demonstra com isso estar perfeitamente sintonizado com a grande maioria de seus pares.

crossi@uol.com.br

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