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CLÓVIS ROSSI
De apocalipses e heróis
PARIS - Este ano tem tudo para
ser aquele em que, ou evitamos o
apocalipse, ou nele caímos de vez.
Para começar, há essa baita crise
econômica que praticamente todo
o mundo dá como a maior desde a
grande depressão dos anos 30. Curiosamente (ou agourentamente), a
crise dos 30 teve início em 1929, há
exatos 80 anos portanto.
Eu sempre desconfio de previsões apocalípticas, talvez porque,
tendo me encarregado da cobertura
de América Latina durante muitos
anos, torne-me cético ao ouvi-las
tão seguidamente sem que de fato
ocorresse o fim do mundo (ou de
um dado país da região).
Só espero que este ano não seja o
daquela história do cidadão que vivia dizendo "o lobo vem vindo, o lobo vem vindo", e o lobo nunca vinha. Quando veio, crau, pegou todo
mundo desprevenido.
Depois, no fim do ano, haverá
uma conferência em Copenhague,
na Dinamarca, para definir como
combater a mudança climática e
evitar que o aquecimento global seja o segundo lobo do ano.
É verdade que ainda há quem
ache que o lobo do clima não é tão
feio quanto parece. Mas seria de
uma tremenda irresponsabilidade
ficar esperando, sem fazer nada, para ver se o aquecimento global é arrasador ou não. Diminuir a emissão
de gases só fará bem aos seres humanos, como é óbvio.
Nem estou mencionando os conflitos permanentes e remotos, a
ameaça do terrorismo, a pobreza de
vastas camadas da população, a
obscena desigualdade social -enfim, uma série de apocalipses cotidianos que, por isso mesmo, já nem
aterrorizam mais.
O pior, como Luiz Carlos Bresser-Pereira escreveu ontem nesta
Folha, é que "neste mundo desencantado em que vivemos, a última
coisa que nos dispomos a reconhecer é um político herói".
Vai ser preciso um. Ou vários.
Não os estamos reconhecendo ou
de fato não existem?
crossi@uol.com.br
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