São Paulo, quarta-feira, 04 de fevereiro de 2009

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CLÓVIS ROSSI

De apocalipses e heróis

PARIS - Este ano tem tudo para ser aquele em que, ou evitamos o apocalipse, ou nele caímos de vez.
Para começar, há essa baita crise econômica que praticamente todo o mundo dá como a maior desde a grande depressão dos anos 30. Curiosamente (ou agourentamente), a crise dos 30 teve início em 1929, há exatos 80 anos portanto.
Eu sempre desconfio de previsões apocalípticas, talvez porque, tendo me encarregado da cobertura de América Latina durante muitos anos, torne-me cético ao ouvi-las tão seguidamente sem que de fato ocorresse o fim do mundo (ou de um dado país da região).
Só espero que este ano não seja o daquela história do cidadão que vivia dizendo "o lobo vem vindo, o lobo vem vindo", e o lobo nunca vinha. Quando veio, crau, pegou todo mundo desprevenido.
Depois, no fim do ano, haverá uma conferência em Copenhague, na Dinamarca, para definir como combater a mudança climática e evitar que o aquecimento global seja o segundo lobo do ano.
É verdade que ainda há quem ache que o lobo do clima não é tão feio quanto parece. Mas seria de uma tremenda irresponsabilidade ficar esperando, sem fazer nada, para ver se o aquecimento global é arrasador ou não. Diminuir a emissão de gases só fará bem aos seres humanos, como é óbvio.
Nem estou mencionando os conflitos permanentes e remotos, a ameaça do terrorismo, a pobreza de vastas camadas da população, a obscena desigualdade social -enfim, uma série de apocalipses cotidianos que, por isso mesmo, já nem aterrorizam mais.
O pior, como Luiz Carlos Bresser-Pereira escreveu ontem nesta Folha, é que "neste mundo desencantado em que vivemos, a última coisa que nos dispomos a reconhecer é um político herói". Vai ser preciso um. Ou vários.
Não os estamos reconhecendo ou de fato não existem?

crossi@uol.com.br


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