São Paulo, quinta-feira, 04 de março de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Carne aos leões

BRASÍLIA - Uma das melhores frases da crise Waldomiro partiu do líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN): "Com ou sem CPI, a oposição está bem alimentada para uma longa travessia".
Não fica claro se ele inclui nessa "travessia" algo essencial: as eleições municipais de outubro, aquelas em que o PT sonha, ou sonhava, multiplicar prefeitos do próprio partido ou de aliados pelo país afora.
O governo e o próprio PT têm dado carne aos leões, algumas vezes de graça. PSDB e PFL podem ficar sentadinhos, colhendo no colo o discurso (ou melhor, os ataques) de campanha. Waldomiro, como bem disse Agripino, já é um excelente alimento. Mas há outros, muitos outros.
Os dois principais são na economia e no social. A política econômica conservadora gerou uma variação negativa de 0,2% do PIB. Vexaminoso, além de perigoso. A política social ficou calcada no Fome Zero. Ficção, além de propaganda enganosa.
Basta isso -Waldomiro, recessão, área social empacada- e tem-se uma robusta campanha de oposição nos mais de 5.500 municípios.
Governo e petistas lembram que esse discursinho federal não tem nenhum impacto nem elege ninguém nos municípios. Tá bom. Mas nunca se esqueça que em eleições também vale a sábia advertência: nada como um dia atrás do outro. O discurso de 2004 fica pairando no ar, formando consciências contra e a favor, minando certezas de uns e criando certezas em outros. E, certamente, vai ter efeito, por exemplo, em 2006.
Lula e seus 60% de aprovação popular estão passando incólumes, como mostrou claramente o Datafolha desta semana. Ele tem, portanto, boas condições para ser reeleito. Mas ganhar eleições não é tudo. Governar depois é que são elas.
Ao dar esse tipo de carne aos leões -hoje, no Congresso, amanhã, nas eleições municipais e, depois, nos botecos do país-, o governo corre o risco de chegar como um cordeirinho a um segundo mandato de Lula. Não é bom para o partido, nem para Lula e muito menos para o país.


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