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ELIANE CANTANHÊDE
Carne aos leões
BRASÍLIA - Uma das melhores frases da crise Waldomiro partiu do líder
do PFL no Senado, José Agripino
Maia (RN): "Com ou sem CPI, a oposição está bem alimentada para uma
longa travessia".
Não fica claro se ele inclui nessa
"travessia" algo essencial: as eleições
municipais de outubro, aquelas em
que o PT sonha, ou sonhava, multiplicar prefeitos do próprio partido ou
de aliados pelo país afora.
O governo e o próprio PT têm dado
carne aos leões, algumas vezes de
graça. PSDB e PFL podem ficar sentadinhos, colhendo no colo o discurso
(ou melhor, os ataques) de campanha. Waldomiro, como bem disse
Agripino, já é um excelente alimento.
Mas há outros, muitos outros.
Os dois principais são na economia
e no social. A política econômica conservadora gerou uma variação negativa de 0,2% do PIB. Vexaminoso,
além de perigoso. A política social ficou calcada no Fome Zero. Ficção,
além de propaganda enganosa.
Basta isso -Waldomiro, recessão,
área social empacada- e tem-se
uma robusta campanha de oposição
nos mais de 5.500 municípios.
Governo e petistas lembram que esse discursinho federal não tem nenhum impacto nem elege ninguém
nos municípios. Tá bom. Mas nunca
se esqueça que em eleições também
vale a sábia advertência: nada como
um dia atrás do outro. O discurso de
2004 fica pairando no ar, formando
consciências contra e a favor, minando certezas de uns e criando certezas
em outros. E, certamente, vai ter efeito, por exemplo, em 2006.
Lula e seus 60% de aprovação popular estão passando incólumes, como mostrou claramente o Datafolha
desta semana. Ele tem, portanto,
boas condições para ser reeleito. Mas
ganhar eleições não é tudo. Governar
depois é que são elas.
Ao dar esse tipo de carne aos leões
-hoje, no Congresso, amanhã, nas
eleições municipais e, depois, nos botecos do país-, o governo corre o risco de chegar como um cordeirinho a
um segundo mandato de Lula. Não é
bom para o partido, nem para Lula e
muito menos para o país.
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