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CARLOS HEITOR CONY
O gênio e a droga
RIO DE JANEIRO - Não fiquei surpreso ao saber que Lula, segundo as últimas pesquisas, em termos de popularidade continua com bons índices.
Aliás, sem nenhuma vocação para
profeta, já havia comentado o fenômeno há meses: por pior que estejam
o governo e o país, Lula continuará
sendo o salvador, imune às contingências naturais da carne política. É
um mito criado pela maioria do nosso povo. Negá-lo seria negar o próprio povo.
Lembro um tempo em que correu
por aí uma frase atribuída ao Paulo
Francis sobre o cinema nacional: "O
filme é uma droga, mas o diretor é
um gênio".
Havia uma disparidade entre o
produto e a mística criada em torno
dos diretores, todos considerados gênios. Os segundos cadernos da vida
provavam exaustivamente a genialidade de todos, não apenas dos diretores mas dos iluminadores, produtores, continuístas, cinegrafistas e até
dos motoristas que serviam às equipes. Na hora de a onça beber água, os
resultados provavam o contrário.
Com Lula e a sua produção pessoal,
que é o governo como um todo, está
acontecendo igual disparidade. O
presidente é um gênio, santificado
pelo seu passado glorioso, como lembrou Clóvis Rossi, nesta semana, fazendo um paralelo entre o ex-presidente do Haiti e o nosso atual manda-chuva, que, aliás, pouco está
mandando, embora a chuva esteja
fazendo estragos gerais.
Acredito que continuará assim. Tirante a pauta de reivindicações sociais que lhe deram fama e status de
messias, Lula só demonstrou habilidade para se preservar no papel de
mediador das crises internas do PT e,
agora, das crises do governo.
Não me refiro ao último escândalo,
que leva o codinome de Waldomiro.
No meu entender, a trapalhada não
chega a atingir a honorabilidade do
poder, nem do Zé
Dirceu, muito menos do Lula. Refiro-me ao escândalo continuado da
insensibilidade social e econômica do
governo, que é elogiado pelo FMI e
começa a ser negado pela nação.
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