São Paulo, quarta-feira, 04 de abril de 2007

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CLÓVIS ROSSI

Trair e coçar é só começar

SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou na mão seu recém-nomeado comandante da Aeronáutica, ao desautorizá-lo no momento em que se preparava para prender militares amotinados.
Motim é crime. Deve ser punido na forma da lei, qualquer que seja a razão dos amotinados.
Em seguida, Lula deu as costas a seu ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, ao descumprir parte do que havia sido acertado pelo ministro, a mando de Lula, com os controladores amotinados. Por extensão, traiu também os controladores, cujo motim havia sido, digamos, "legalizado" pelo acordo com Bernardo.
É muito para pouco tempo? Não.
É só a seqüência de uma lógica que vem desde o início do governo.
Afinal, ao assumir o cargo, Lula jogou no lixo tudo o que ele e seu partido haviam dito e escrito durante seus primeiros 23 anos de história. Se isso não é traição, rasguem-se os dicionários.
O problema é que a traição original mereceu aplausos quase unânimes. Os poderosos de sempre, cuja capacidade de difundir seu interesse é fenomenal, ficaram felicíssimos ao ver que um partido e um líder político que se diziam de esquerda adotavam o mais desbragado conservadorismo.
E a esquerda calou-se quase toda, satisfeita com as "boquinhas".
Aliás, é por isso que o problema militar de agora não pode ser comparado aos do passado, especialmente à crise de 1964. Naquela época, os interesses das elites econômicas e empresariais estavam, sim, sendo tocados ou ao menos ameaçados pelo governo Goulart e seus aliados. Agora, Luiz Inácio Lula da Silva é o fiador do status quo e do establishment.
A primeira e original transfiguração puxou as demais, como, por exemplo, as alianças com Sarney, Quércia, Maluf, Collor, Delfim, Geddel e um vasto etc. Quem faz uma faz muitas, faz todas.


crossi@uol.com.br

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