|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Trair e coçar é só começar
SÃO PAULO - O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva deixou na mão
seu recém-nomeado comandante
da Aeronáutica, ao desautorizá-lo
no momento em que se preparava
para prender militares amotinados.
Motim é crime. Deve ser punido na
forma da lei, qualquer que seja a razão dos amotinados.
Em seguida, Lula deu as costas a
seu ministro do Planejamento,
Paulo Bernardo, ao descumprir
parte do que havia sido acertado pelo ministro, a mando de Lula, com
os controladores amotinados. Por
extensão, traiu também os controladores, cujo motim havia sido, digamos, "legalizado" pelo acordo
com Bernardo.
É muito para pouco tempo? Não.
É só a seqüência de uma lógica que
vem desde o início do governo.
Afinal, ao assumir o cargo, Lula
jogou no lixo tudo o que ele e seu
partido haviam dito e escrito durante seus primeiros 23 anos de história. Se isso não é traição, rasguem-se os dicionários.
O problema é que a traição original mereceu aplausos quase unânimes. Os poderosos de sempre, cuja
capacidade de difundir seu interesse é fenomenal, ficaram felicíssimos ao ver que um partido e um líder político que se diziam de esquerda adotavam o mais desbragado conservadorismo.
E a esquerda calou-se quase toda,
satisfeita com as "boquinhas".
Aliás, é por isso que o problema
militar de agora não pode ser comparado aos do passado, especialmente à crise de 1964. Naquela época, os interesses das elites econômicas e empresariais estavam, sim,
sendo tocados ou ao menos ameaçados pelo governo Goulart e seus
aliados. Agora, Luiz Inácio Lula da
Silva é o fiador do status quo e do
establishment.
A primeira e original transfiguração puxou as demais, como, por
exemplo, as alianças com Sarney,
Quércia, Maluf, Collor, Delfim,
Geddel e um vasto etc. Quem faz
uma faz muitas, faz todas.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: O risco do precedente
Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Apagão informativo Índice
|