São Paulo, sexta-feira, 04 de maio de 2001

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Romênia, uma porta para o Brasil

IVES GANDRA DA SILVA MARTINS

A Primeira Missão Cultural Brasileira na Romênia, liderada pelo eminente presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Carlos Mário Velloso, e de iniciativa do incansável embaixador brasileiro naquele país, Jerônimo Moscardo, superou todas as expectativas, pelas perspectivas abertas para uma presença maior do Brasil no Leste Europeu, a partir da Romênia.
Inicialmente idealizada para o cumprimento de alguns atos protocolares e culturais -a saber: outorga da mais alta consideração do governo romeno pelo presidente da República ao ministro Carlos Mário Velloso; doutoramento honoris causa do presidente do Supremo Tribunal Federal, do reitor da Universidade Mackenzie, Cláudio Lembo, do professor romeno-brasileiro George Legmann e deste articulista; outorga do título de professora laureada à coordenadora de Pós-Graduação da Universidade Mackenzie, Mônica Hermann; outorga do título de sócios honorários da União de Juristas Romenos aos cinco professores de direito acima nomeados; lançamento, naquela entidade, de meu livro "Uma visão do mundo contemporâneo", em romeno; coroamento das atividades jurídico-culturais com três concertos de música clássica brasileira e de "Concerto para Mão Esquerda", de Ravel, nas três principais cidades daquele país, pelos pianistas João Carlos Martins e José Eduardo Martins (Bucareste, Cluj-Napoca e Craiova)-, ultrapassou, em muito, as dimensões culturais, para a abertura de enormes perspectivas no relacionamento entre os dois países.
Todas as autoridades nacionais e locais, inclusive ministros de Estado, juízes da Corte Constitucional e do Supremo Tribunal, realçaram, de um lado, a importância de um estreitamento de relações entre os dois países e, de outro, a abertura dos mercados do Leste Europeu e do Próximo Oriente para o Brasil, pois num círculo de mil quilômetros de Bucareste vivem 200 milhões de pessoas, nada obstante a Romênia ter a população de apenas 22 milhões.
Talvez nenhum país -inclusive pelo fato de estar na Romênia parte do Mar Negro, última fronteira da latinidade- possa, com tanta facilidade, abrir tais mercados para o Brasil, sobre o relacionamento cultural, poder restar fortalecido, com sólidos laços a serem estabelecidos no campo universitário e artístico, visto que a cultura romena dos tempos do imperador Trajano, há quase 2000 anos, é ampla e reconhecida.


Talvez seja [a missão à Romênia" a grande oportunidade para se abrirem novas fronteiras e perspectivas
Acontece que, de todos os países latinos, o que menor resistência pode oferecer a qualquer iniciativa, pela própria inexistência de relações anteriores, é a Romênia, tendo todas as autoridades, sem exceção, demonstrado um indiscutível interesse no fortalecimento desses laços de amizade, cultura e de relações econômicas, com abertura do espaço romeno e, por decorrência, do espaço do Próximo Oriente, gerando um intercâmbio comercial mais estreito com o Brasil.
Nesse sentido, o embaixador Jerônimo Moscardo já criou Centros de Estudos Brasil-Romênia, inclusive uma Biblioteca Brasileira, sustentada pela Prefeitura de Bucareste, como primeiros passos para exame das convergências possíveis entre as duas nações.
Quando recebemos, os quatro brasileiros, o doutoramento honoris causa, em solenidade na Universidade Craiova, peculiar aos meios acadêmicos, foi anunciada também a outorga futura da mesma lauda ao professor, escritor e reconhecida autoridade em sociologia, o presidente da República Fernando Henrique Cardoso. Este, em telefonema ao ministro Carlos Mário Velloso, comunicado ao reitor da universidade, confirmou que, em próxima oportunidade lá estará para receber o título; possivelmente quando do lançamento, em romeno, de seu último livro sobre as opções da democracia.
Talvez seja esta a grande oportunidade para se abrirem novas fronteiras e perspectivas para o Brasil, no extremo oriental da latinidade, e para o estreitamento de relações com um povo que, nessa semana de intensas atividades culturais, foi-me possível sentir estar ávido de receber os brasileiros, por sentir-se muito próximo de nós, apesar da enorme distância.
Que saibamos aproveitar as portas abertas pela diplomacia brasileira, pelo embaixador Jerônimo Moscardo, fortalecendo as relações culturais e desvendando novos horizontes para a economia nacional, tão necessitada de começar a gerar "superávits" em sua balança comercial.
Ives Gandra da Silva Martins, 65, advogado tributarista, é professor emérito das Universidades Mackenzie e Paulista e da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, além de presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo.


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