São Paulo, terça-feira, 04 de maio de 2004

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ERRO TÁTICO

O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, apostou, blefou e perdeu. Sem que tivesse a obrigação legal ou estatutária de fazê-lo, decidiu submeter seu plano de retirada unilateral da faixa de Gaza a um referendo de seu partido, o Likud. Fez campanha cerrada pela aprovação. Chegou a sugerir que renunciaria se não tivesse o apoio dos correligionários. Ainda assim, quase 60% dos membros do Likud que votaram no plebiscito disseram "não" à proposta do premiê, que agora se vê em sérios apuros políticos.
É claro que a ameaça de renúncia nunca passou de um blefe. Em sua primeira manifestação após o anúncio da derrota, Sharon excluiu completamente essa possibilidade. O mais provável é que ele tente agora aprovar o plano no gabinete e, em seguida, no Knesset (Parlamento). O governo poderia até mesmo levar a questão a um referendo nacional. Pesquisas indicam que entre a população o apoio à retirada das tropas de Gaza chega a 60%.
Os membros do Likud se opõem à iniciativa porque são mais próximos dos colonos israelenses estabelecidos em territórios ocupados, e o plano prevê a remoção de cerca de 7.500 israelenses que vivem em Gaza, rodeados por 1,3 milhão de palestinos -algo que exige a mobilização de um considerável aparato militar para garantir a segurança.
É claro que a derrota também pesa na sensível política partidária israelense. Não se pode descartar a possibilidade de que outras lideranças tentem aproveitar o momento de debilidade de Sharon para forçar novas eleições. O premiê, além disso, corre o risco de ser indiciado nas investigações de um escândalo de corrupção, o que o deixaria ainda mais frágil.
Sharon cometeu, no mínimo, um erro tático. Seu plano apresenta inúmeros e graves defeitos, mas tem a virtude de desmantelar os assentamentos de Gaza, um passo necessário, embora não suficiente, para a paz com os palestinos. E essa idéia corre agora o risco de se perder.


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