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CLÓVIS ROSSI
Pirataria e pretexto
BRUXELAS - Que pirataria deve ser duramente combatida, nem é preciso
dizer. Mas pretender transformar a
pirataria em pretexto para retaliações comerciais é outra história.
No fundo, essa é a raiz da divergência entre Brasil e Estados Unidos nas
negociações da Área de Livre Comércio das Américas no capítulo referente ao respeito aos direitos de propriedade intelectual.
Comenta o ministro Celso Amorim,
que, como chanceler, chefia todos os
negociadores brasileiros: "Se muitas
vezes não há dinheiro para combater
o tráfico de armas, pode não haver
dinheiro para combater a pirataria.
Nem por isso temos de aceitar retaliações comerciais, que acabariam
punindo a falta de dinheiro, porque
não há uma política oficial de apoio
ou tolerância com a pirataria".
É evidente que há outro ponto em
que as divergências são profundas: os
Estados Unidos estão criando problemas para aceitar decisão da Organização Mundial do Comércio pela
qual o direito à saúde se sobrepõe ao
direito às patentes.
Ou traduzindo: os países devem ter
o direito de importar genéricos, mais
baratos, para combater determinadas doenças, com o que o direito às
patentes fica arranhado, quando não
anulado.
O problema é que combater a pirataria tem tanta lógica que fica extremamente simpático apresentar o
Brasil como violador contumaz dos
direitos de propriedade intelectual,
com o que, subrepticiamente, se passa a idéia de que um país com esse,
digamos, prontuário precisa ser punido de alguma forma.
É claro que o governo pode fazer
muito mais para combater a pirataria, mas nem por isso é lícito, a partir
desse pretexto, impor barreiras comerciais. Não passa de protecionismo embrulhado em um argumento
politicamente correto.
Mais ou menos como no aço: quando a produção era quase toda estatal,
havia de fato subsídios. Mas as restrições norte-americanas não cessaram
quando o setor foi privatizado e, por
extensão, deixaram de ser concedidos
os subsídios.
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