São Paulo, terça-feira, 04 de maio de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Bons amigos

RIO DE JANEIRO - Estamos em boas, boníssimas mãos. Na semana passada, nosso presidente confessou que às vezes acorda invocado, pega o telefone e fala diretamente com Bush, dando-lhe conselhos ou recados. Deve haver um mecanismo eletrônico que traduza essas conversas -Bush não sabe dizer nem "obrigado" em português, e Lula não é lá essas coisas em nenhum idioma, nem mesmo em português.
Devemos ficar curiosos em saber o tamanho, o tipo e a oportunidade desses recados ou conselhos. Dou de barato que não serão ameaças, não cola bem acordar um chefe de Estado amigo para fazer ameaças de qualquer espécie. Além do mais, se o homem brasileiro deixou de ser cordial, Lula continua cordial à maneira dele. E, não se tratando de Bin Laden e de Saddam Hussein, o presidente norte-americano se esforça para ser civilizado, também à maneira dele.
Falam por aí que tanto Bush como Lula são chegados a um aperitivo. A barra é dura para ambos, um tem pela frente os terroristas da Al Qaeda, o outro tem os descontentes dos sem-terra e os contentes do FMI.
É natural que procurem relaxar de tantas e tamanhas agruras. E o bate-papo matinal deve fazer bem aos dois. Melhor assim. A maior tragédia do século passado foi a falta de diálogo entre Hitler e Churchill, se os dois conversassem todas as manhã não teria havido a Segunda Guerra.
Churchill bebia e fumava imensos charutos, Hitler só tomava chá, era vegetariano e detestava cigarro, foi o primeiro chefe de Estado a proibir que fumassem diante dele. É o patrono dos antitabagistas de hoje. É evidente que não podiam se entender, só mesmo uma guerra entre os dois, com 20 milhões de mortos.
Pelo menos desse risco estamos livres. Lula e Bush apreciam um trago, devem se entender como dois bons amigos que se encontram num bar e se prometem coisas boas reciprocamente, mandando o resto da humanidade às favas.


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